O anúncio de uma nova produção que recrie ou dê continuidade à queridas e conhecidas histórias é preocupante. A pergunta que vem de imediato é: por quê? Qual o propósito de mexer em algo que já marcou a história do cinema se você pode criar algo novo? E a primeira resposta que vem à mente é: dinheiro. O apelo emocional do público é o fator número um para um filme que revitaliza, reconstrói ou continua uma narrativa anterior. E esse é o caso de Ghostbusters: Mais Além que, depois de quatro adiamentos por conta da pandemia, finalmente chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (18).
O longa-metragem causou um rebuliço nos fãs da franquia quando foi anunciada a sua produção. Apesar da empolgação, a ideia de um novo Caça-Fantasmas recaiu nesta discussão sobre o valor de sua existência dentro da franquia. Ghostbusters: Afterlife (título original), no entanto, se mostra um projeto sensível e inteligente. A produção soube dosar os momentos de servir o público com coisas do passado sem perder de vista o seu valor de construção próprio. Tudo isso entregue ao público com graça, emoção e charme.
Callie (Carrie Coon, As Viúvas) se muda com seus filhos, Phoebe (Mckenna Grace, Maligno) e Trevor (Finn Wolfhard, It – Capítulo 2), para a casa de seu recém falecido pai. Com uma relação conturbada entre pai e filha, tanto Callie quanto as crianças não sabiam o que esperar da ida para a pacata cidadezinha até que o passado se fez presente. Aparições de fantasmas trazem à tona os segredos da família, revelando que Phoebe e Trevor são netos de Egon Spengler, o antigo Caça-Fantasmas. Agora os decentes de Egon terão a difícil missão de conter as forças paranormais que estão tentando tomar conta da pequena cidade.
Ghostbusters: Mais Além é uma produção que se mantém por si só por saber respeitar o que veio antes dela. E é evidente que a proximidade das mentes que comandaram o processo são as responsáveis por isso. Dirigido e co-escrito por Jason Reitman (Tully), Mais Além é um legado passado de pai para filho. Jason é filho do diretor dos dois primeiros filmes, Ivan Reitman. O Reitman pai também é o produtor do projeto, ou seja, estava tudo em família. Como se eles pudessem retomar de onde Ivan parou, em 1989. E é a sensação que dá ao sair da sessão. O espectador sente como se tivesse vivenciado uma história que não é apenas uma continuação direta dos clássicos de ficção científica dos anos 1980, mas uma produção com a mesma energia e qualidade.
Afterlife vem para revitalizar a querida franquia sci-fi e mostrar que é possível se fazer continuações com qualidade e que se sustentam – como Halloween (2018) também fez há alguns anos. Os detalhes que conectam o filme com seus antecessores é uma força motriz. Evidentemente existe o fan service espalhado pelo longa, mas nada que atrapalhe a recepção. Pelo contrário, as escolhas de serviço não são excessivas e foram colocadas nos momentos perfeitos para gerar nostalgia.
E é por meio dessa construção narrativa regada de memórias afetivas que o público é conduzido numa história com comédia, drama e tensão. A participação dos Caça-Fantasmas originais é um dos momentos mais emocionantes para os fãs, em especial porque Harold Ramis, o ator que interpretou Egon Slenger, faleceu em 2014, aos 69 anos. Talvez daí venha a explicação simbólica do título original do filme (que quer dizer além da vida, em tradução livre). A presença dele com imagens de arquivo dos outros filmes é um abraço quente no espectador. Ramis, além de dar vida a um dos personagens principais, também co-escreveu Os Caça-Fantasmas (1984) e Os Caça-Fantasmas 2 (1989) com seu colega de cena Dan Aykroyd, o eterno Ray Stantz.
Tanto o elenco jovem como o adulto conduz o público por cada momento cômico com maestria. A participação de Paul Rudd (Homem Formiga e a Vespa, de 2018, e Vingadores: Ultimato, de 2019), por exemplo, é um show à parte. O ator mostra mais uma vez porque está em Hollywood há tantos anos fazendo o espectador chorar de rir. Além dele, outro destaque do filme é a jovem Mckenna Grace (Annabelle 3: De Volta Para Casa, de 2019, e Maligno, de 2021). A atriz esbanja talento e comove o público em sua jornada de autoconhecimento e aceitação. Entre risadas e lágrimas, Ghostbusters: Mais Além é um filme preparado para divertir todas as pessoas.
Direção: Jason Reitman
Elenco: Carrie Coon, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Paul Rudd, Bill Murray, Celeste O’Connor, Dan Aykroyd, Ernie Hudson
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