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Crítica: As Viúvas

O diretor Steve McQueen retorna aos cinemas com o longa As Viúvas, uma trama de suspense que mostra a dificuldade que um grupo de mulheres enfrenta depois que seus maridos criminosos morrem e suas dívidas vem ser cobradas. Então a personagem de Viola Davis decide assumir as rédeas da situação e seguir o plano do marido falecido para conseguir se livrar de uma ameça.

Com uma trama relativamente simples e não exatamente nova, o filme vai se revelando aos poucos e a partir da construção bem feita de personagens e arcos narrativos. McQueen utiliza a sua genialidade para dar corpo a uma temática de suspense, com várias pitadas de reflexão.

A história reúne essas mulheres pela dor da perda de seus maridos e o desespero de cair nas mãos de criminosos que querem cobrar dívidas. A sororidade surge quando elas se enxergam com a possibilidade de se ajudar e tirar todas daquele problema. Por mais que exista uma hierarquia clara, o sentimento de igualdade é razoável, especialmente quando se trata da divisão de dinheiro.

Embora a intenção seja positiva (de sustento), os meios não o são. Elas são esposas de criminosos e acabam se tornando também, para conseguir sair daquela situação. Ainda assim, o espectador não deixa de conseguir criar empatia pelas personagens. Aliás, esse é o objetivo da trama. Envolver o público pela complexidade dos personagens e não exatamente pela condução do enredo.

Embora existam reviravoltas, elas não são constante e nem tão mirabolantes. Justamente porque este não é o foco. Seria simplista demais para McQueen se o fosse. Até o ritmo do filme segue essa premissa. Ele é mais lento e constrói a narrativa com cuidado e de maneira detalhada. Quando conseguimos explorar um pouco mais das camadas da personagem de Viola, entendemos que o filme vai além no discurso. Ele fala também sobre racismo e o papel da mulher na disputa por poder.

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Toda essa trama bem trabalhada só conseguiu ser desenvolvida por conta do excelente elenco escolhido a dedo. Viola Davis no papel da protagonista consegue nos guiar pelas cenas com uma profunda densidade de emoções. Cada cena é um presente ao espectador, que se deleita com a atuação incrível de sempre. Para além dela, Michelle Rodriguez consegue mostrar o seu potencial dramático em um papel que não envolve carros e pancadaria. Ela está muito mais humana e, assim, conseguimos ver muito mais de sua performance, que é ótima.

O destaque de coadjuvantes vai mesmo é para Elizabeth Debicki. Com seu perfil muito marcado pela estética do mulherão, ela consegue transgredir essa caixa e roubar a atenção do espectador em todos os momentos. Sua personagem vai crescendo e se transformando aos nossos olhos, assim como o encantamento pela atriz. Já na parte final, temos ainda a inserção de Cynthia Erivo, que também está excelente e traz um peso ainda maior para a realidade da personagem de Viola.

Do lado masculino, temos um Daniel Kaluuya completamente diferente do que já vimos, interpretando um psicopata sádico. As Viúvas traz ainda Colin Farrel, Liam Neeson e Robert Duvall todos igualmente coerentes com os papéis e fortes nas atuações. Definitivamente, o elenco é o ponto mais alto do filme.

Além disso, o longa tem um cuidado muito grande com a estética e fotografia. Cenas que vão ficando claras e escuras de acordo com a necessidade das emoções, até o figurino utilizado por todos.

As Viúvas é um excelente filme que traz mais uma vez o incrível potencial criativo do diretor Steve McQueen, que vai além de criar uma trama de assalto e acaba falando sobre as relações humanas e questões sociais. Vale muito a pena conferir!

Assista ao trailer!