Crítica: Ex-Machina – Instinto Artificial

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A robô Ava (Alicia Vinkander) explora a sua humanidade ao longo do filme

 

Ex-Machina – Instinto Artificial é um dos filmes mais bem resenhados pela crítica internacional nesse primeiro semestre e sequer chegará aos cinemas do nosso país, ele será lançado diretamente em mercado doméstico (DVDs e Blu-Rays) e serviços de video on demand. O longa não foi a primeira e nem será a última “vítima” desse sistema cruel de distribuição, ficando mais do que claro a cada dia que passa que os lançamentos diretos nesse formato não são sinônimos de “bombas cinematográficas”, muito pelo contrário. Com algumas exceções, nossas salas comerciais estão abarrotadas de filmes de gosto questionável e nenhuma distribuidora está disposta a perder dinheiro lançando cópias de um longa que está fadado ao fracasso financeiro, afinal de contas, nossas platéias têm o péssimo hábito de só assistir a filmes de língua inglesa se forem um grande blockbuster ou tiverem indicações ao Oscar, tudo que está fora dessa esfera é jogado no limbo – curioso que ninguém adota essa postura quando o objeto em questão são séries televisivas, mas voltemos ao assunto… Uma pena mesmo que Ex-Machina chegue assim em nosso país, pois o longa de Alex Garland, roteirista de Extermínio e Sunshine – Alerta Solar, é um primor cinematográfico e merecia a tela grande.

A história de Ex-Machina – Instinto Artificial tem início quando um jovem programador ganha uma promoção da sua empresa para participar de um novo experimento de inteligência artificial desenvolvido pelo presidente da companhia, um gênio milionário excêntrico e recluso. O projeto envolve um teste em um robô programado para assumir o sexo feminino chamado Ava e o objetivo é detectar o nível de veracidade dos sentimentos que podem surgir entre essa inteligência artificial e um humano. Caso a experimentação falhe, o robô será descartado e o projeto será reiniciado. O problema é que Ava atinge um nível tão sofisticado de sedução e existe tanto segredo por trás de sua criação que a relação entre ela, o cientista e o jovem programador ganha contornos imprevisíveis.

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Teste: Natan (Oscar Isaac) testa a inteligência artificial através do seu jovem funcionário Caleb (Domhnall Gleeson)

 

Alex Garland era um roteirista habitual de Danny Boyle em um período intermediário da carreira do diretor, aquele que sucedeu a sua revelação como cineasta em longas icônicos da sua filmografia como Cova Rasa e Trainspotting e antecedeu sua popularização e consequente estandardização com projetos como Quem quer ser um milionário? e 127 Horas. Foram filmes modestos, de repercussão média, mas cultuados por um grupo de cinéfilos, como Extermínio e Sunshine – Alerta Solar (vamos excluir A Praia dessa seleção, tá?). Eram longas marcados por tramas tensas e inteligentes, com uma certa dose de elegância no desenvolvimento de seus atos e das suas reviravoltas. Em sua estreia na função de diretor com Ex-Machina, Garland leva todas essas características do seu roteiro para as imagens, proporcionando ao espectador a experiência de assistir a um filme instigante, enervante e consciente dos recursos da linguagem cinematográfica.

Ex-Machina apresenta-se ao espectador como uma ficção-científica que não é refém dos seus efeitos digitais, apesar de ser um dos departamentos mais interessantes da obra. O filme faz jus ao gênero por utilizá-los em prol de uma trama que pretende discutir temáticas filosóficas sobre a fé, a ética, a sensação de onipotência do homem e a sua relação com a tecnologia, todos eles interligados por um roteiro que evita subestimar o espectador com didatismos e opta pela abordagem direta. Garland conta com um elenco que oferece performances equilibradas, é o caso de Domhnall Gleeson e de Alicia Vinkander, ótima como a robô Ava. Claro que entre as interpretações do filme a do ator Oscar Isaac se destaca por colocar sempre um ponto de interrogação acerca da sinceridade e integridade do excêntrico Nathan.

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Excentricidade: Criador de Ava, personagem de Oscar Isaac rende mais uma grande interpretação do ator.

 

Com Ex-Machina, Alex Garland faz um filme que evidencia o quanto o homem é arrogante e estúpido por acreditar que detém o controle de tudo. A criação é o que faz as nossas gerações se aperfeiçoarem, mas também pode ser severamente subestimada em sua existência e autonomia pelo próprio ego do criador. Conduzindo esse tema sem muita parafernália, com recursos tecnológicos pontuais e visualmente impressionantes, mas incorporados à trama, e com muita consciência do poder reflexivo da sua própria história, Alex Garland faz um dos filmes do ano.