Evereste é um filme relativamente esquisito. Tal afirmação, parte de uma impressão pessoal mas que encontra eco e razão de ser na própria estrutura do longa. Evereste é estranho porque ao narrar a história de um grupo que faz uma expedição para escalar o monte Evereste e centrar suas atenções na gana que essas pessoas nutrem por esta meta completamente insana, jamais oferece ao público uma resposta concreta sobre a paixão dos seus personagens principais por uma jornada tão perigosa. Isso é ainda mais complicado se o filme encontrar uma plateia completamente indiferente a tal jornada, ela continuará gélida àqueles personagens já que, em momento algum consegue compreendê-los.
O longa de Baltasar Kormákur (de longas esquecíveis como Dose Dupla e Contrabando) se passa em 1996 e acompanha dois grupos de alpinistas liderados por guias com estilos completamente diferentes, um interpretado por Jason Clarke e outro por Jake Gyllenhaal. Eles enfrentam uma nevasca que coloca a vida de todos em risco para chegar ao cume do monte Evereste. Assim, alcançar a meta da aventura mostra-se infinitamente mais fácil do que o retorno para casa.
O filme de Kormákur é muito eficiente naquilo que tem mais que a obrigação de ser competente: a produção de grandes sequências de tensão no Evereste utilizando efeitos visuais e sonoros de ponta. Nada menos do que o esperado para um filme do seu porte. Em outro departamento, no entanto, Evereste acaba revelando-se um filme arrastado, com um material humano pouco interessante e que se sustenta em dramas familiares pouco esmiuçados pelo roteiro, mas que surgem na tela como algo muito precioso ao andamento da trama. Há um emaranhado de dilemas familiares que são mal explicados pelo filme (o núcleo do ator Josh Brolin, por exemplo, que tem uma relação complicada com sua esposa vivida por Robin Wright), mas que, por alguma estranha razão, estão lá e entram em ebulição com viagem ao Evereste.
Escrito pelo vencedor do Oscar Simon Beaufoy (Quem quer ser um milionário?) e pelo indicado ao mesmo prêmio William Nicholson (Gladiador), o roteiro desse filme é tão problemático que, como já antecipamos, jamais deixa claro uma informação fundamental para que o espectador se envolva com a trajetória dos seus personagens: a motivação do grupo para empreender uma jornada tão arriscada. Tudo é simplificado com explicações subentendidas do tipo “tesão pela aventura”. Desculpem, mas é muito pouco para entender decisões fundamentais que alguns personagens tomam ao longo do filme. Como resultado, Evereste acaba contando com as relações amorosas para causar o mínimo de empatia no espectador, o que também não funciona já que, com pouquíssimo tempo em cena, alguns personagens sequer conseguem mostrar a que veio, é o caso das esposas vividas por Robin Wright e Keira Knightley, que cumprem a cota “Penélope” de A Odisseia ao viverem mulheres que ficam em casa esperando o retorno dos seus amados. E não é só Wright e Knightley que saem perdendo tamanha a falta de tratamento do roteiro com a história, todos os atores são vítimas dessa característica de Evereste, a falta de densidade do seu script, incluindo aqueles que seriam os seus protagonistas, Jason Clarke, Jake Gyllenhaal e Josh Brolin.
Seguindo a tradição de filmes com um elenco estelar subaproveitado, Evereste não consegue sustentar toda a sua qualidade técnica com personagens e trama que jamais envolvem emocionalmente o público. Assim, todo o seu drama humano, que é sugerido como o foco do filme de Kormákur, é absolutamente oco, estéril e genérico. Entre outras questões mal resolvidas do roteiro, não dá para simplificar a motivação dos personagens para enfrentar o que enfrentam rumo ao Evereste como um insano tesão pelo perigo, tampouco sustentar duas horas de filme com conflitos amorosos tão rasos.