Escolha ou Morra

Crítica: Escolha ou Morra (Netflix)

1.5

Por onde começar a falar sobre um filme que se revela repleto de ideias criativas, mas que não consegue apresentar a mesma qualidade em sua execução? Escolha ou Morra, novo terror da Netflix, traz consigo uma premissa até empolgante: quem tiver contato com um suposto videogame, de aparência dos anos 1980, e jogá-lo, terá de fazer escolhas sinistras e dúbias. No entanto, não existe muita saída, pois acontecimentos terríveis ocorrem se o player não selecionar nenhuma opção.

A atmosfera quase atemporal, mas com inspirações oitentistas, é um ganho aqui. Existem influências de games como Não Convidado (1986) e Pesadelo Pessoal (1989) ou de filmes como A Hora do Pesadelo (1984) e Enigma do Outro Mundo (1982) e são nessas  referências que o longa-metragem guarda algum resquício de qualidade. Todavia, no geral, o que acontece aqui é uma exibição cansativa e confusa, com poucos momentos que valem bastante.

Principalmente em termos de direção, certas sequências do filme, como a cena na lanchonete ou a perseguição da piscina, possuem instantes imageticamente fortes e até esteticamente belos – para quem gosta de produções do gênero, ok? Juntamente com a diretora de fotografia Catherine Derry (Senhoras do Crime), o cineasta Toby Meakins (Breathe) imprime uma sensação de experiência próxima do público com os eventos da trama, através da iluminação e de movimentos e efeitos de câmera.

Escolha ou Morra

Contudo, os elementos positivos param por aí. Mas, existe um fator central para a ausência de satisfação com a sessão de Escolha ou Morra. Desde os primeiros minutos de projeção, a narrativa é posta de maneira descuidada. O prólogo, que tem uma personagem que retorna depois, não cria a suspensão necessária para uma abertura potente, porque existe uma obviedade e pontos anticlimáticos que reduzem a sua força.

Depois desta amostragem inicial, o roteiro consegue piorar. As relações entre as personagens não são bem estabelecidas, o que deixa as figuras ali colocadas como descartáveis. Este fator é um tanto grave, porque em histórias de terror é crucial criar empatia, proximidade ou qualquer artifício que faça a plateia torcer para que tudo fique bem. O mesmo pode ser dito sobre a personalidade da protagonista, Kayla (Iola Evans) e de todes que a cercam. Além disso, a própria construção de universo ficcional é frágil.

O comportamento do jogo não parece tão bem decidido e convenientemente todas as fases são mais fáceis para Kayla do que para seu antecessor. Nem ao menos o vilão que criou o game sabe qual o motivo que fez Kayla vencer (imagina o público!). São por estas razões que é um tanto complicado assistir Escolha ou Morra até o final.

Mas, não há como dizer que ele não vale a pena de jeito nenhum, justamente por conta de sequências específicas, que são visualmente bem executadas e por alguns detalhes que podem agradar fãs de terror, como a presença de Robert Englund – o Fred Kruger, de A Hora do Pesadelo –, que está em cena apenas em voz, mas que é uma das melhores coisas aqui.

Direção: Toby Meakins

Elenco: Iola Evans, Asa Butterfield, Angela Griffin

Assista ao trailer!