Metal Lords

Crítica: Metal Lords (Netflix)

Uma típica comédia adolescente, Metal Lords poderia ser algo daquele estilo no qual não há muito que se dizer sobre. Contudo, com suas personagens carismáticas, relações bem trabalhadas e situações cômicas e exageradas construídas progressivamente, o longa-metragem, ainda que bobo e ingênuo, conquista a atenção e o coração dos espectadores. O principal ganho aqui é ver como a dinâmica do trio principal se desenvolve.

Primeiramente, a história ambienta os espectadores no universo daquela narrativa e isto é feito de uma forma até simples, mas que surte um efeito marcante. Com uma abertura que se inicia com rock e frames de um cômodo cheio de cartazes e referências do estilo musical, os quadros vão se fechando até se tornarem planos fechados. Em seguida, após a breve contextualização, a dupla central, Kevin (Jaeden Martell) e Hunter (Adrian Greensmith), é vista pela primeira vez.

Este tipo de estratégia é eficiente, pois reduz o risco de diálogos expositivos e já imprime na tela, sem precisar colocar textos falados, bastante da personalidade das figuras principais. Kevin é um nerd típico em sua aparência física, mas que vai, aos poucos, revelando seu lado rock ‘n’ roll. Hunter é um estereotipo do rebelde sem causa, um metaleiro revoltado, que vai ganhando camadas durante a sessão, com a exposição de outros sentimentos além do ódio da humanidade.

Um pouco mais adiante na trama, é possível conhecer Emily (Isis Hainsworth), uma violoncelista, que lida com crises de raiva, porém que gradativamente vai conhecendo as suas emoções e – mesmo o seu conflito interno não tendo um desfecho tão apropriado -, sem ser escrita apenas como uma side-kick. Ela tem contornos trabalhados, como o paralelo sensibilidade e timidez X ataques físicos de ódio. Tudo isto é trazido para contar a formação da banda destes três amigos: a Skullflower.

Metal Lords

Nesta dinâmica, é perceptível que, através da mescla de fragilidades e forças, quem assiste Metal Lords se sente próximo do trio e pode criar identificações com cada um deles. Aqui não existe nada exatamente de novo. Este é um enredo com teens deslocados, que tentam achar os seus espaços no mundo. Ok, mas o como isto é feito é que deixa a produção divertida e empolgante. Um dos fatos mais potentes é que todas estas características de Emily, Hunter e Kevin são trazidas dentro de situações completamente exageradas.

Tudo é enorme, sentimental, cheio de emoções transbordantes, com rompimentos e atitudes enormes. O que é a adolescência senão um grande combo de exagero, lágrimas e sentimentos aflorados? Este encaminhamento do roteiro – de D.B. Weiss, criador de Game of Thrones – imprime na obra uma perspectiva juvenil dos fatos; É quase como se fosse eles que contassem tudo a durante a exibição. Neste contexto, no qual todos os acontecimentos parecem gigantes e as reações das personagens também são extremas, há aqui apenas um cansaço no final do segundo ato.

Seria preciso que houvesse um respiro ou uma aliviada nesta grandiosidade de ações e emoções para dar um equilíbrio no ritmo do longa. Se ao menos os atores diminuíssem a intensidade em suas atuações em um número maior de sequências esta característica já ficaria mais diluída e aliviaria o seu resultado geral. Além disso, a obviedade das situações também deixa a obra um tanto entediante em determinado momento. Este fator não é algo inesperado para uma comédia teen, porém quando cada cena se torna previsível demasiadamente, a qualidade é afetada.

Todavia, o diretor Peter Sollett (Amor por Direito) é inteligente em se mostrar mais no desfecho da história, aliviando esta queda de qualidade. Contido até o terceiro ato, Sollett entrega mais movimentos e efeitos próximo do desenlace da trama. Um destaque destas sequências é a câmera subjetiva durante o show da banda Skullflower. Este é um dos momentos que comprovam como a equipe de Metal Lords tem este objetivo de criar uma imersão com aquele universo ficcional, para conquistar a plateia e deixar mais nítido o que as personagens estão sentido.

Assim, ainda que um tanto ingênuo e repetitivo dentro de seu subgênero, o longa vale a pena de ser conferido. Ele é uma espécie de Sessão da Tarde? É, mas é daquelas que todas as crianças deixavam o dever de casa para depois, para conseguir assisti-lo!

Direção: Peter Sollet

Elenco: Jaeden Martell, Adrian Greensmith, Isis Hainsworth

Assista ao trailer!