Dona Lurdes - O Filme

Crítica: Dona Lurdes – O Filme

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A ideia de spin-offs de telenovelas brasileiras já foi executada em alguns momentos com relativo sucesso comercial, como foi o caso de Crô: O Filme e Giovanni Improtta, o primeiro ganhou até uma continuação. Dona Lurdes – O Filme junta-se aos dois títulos anteriormente citados, só que aqui, ao invés de figuras coadjuvantes nas tramas dos seus respectivos folhetins, estamos falando de uma das protagonistas da novela Amor de Mãe, lançada na Rede Globo em 2019 e continuada apenas em 2021 pela emissora em razão da pandemia.

Dona Lurdes – O Filme dá continuidade à história da personagem-título interpretada por Regina Casé como uma amálgama da maternidade. No filme, Lurdes tem que lidar com a propagada “síndrome do ninho vazio”, quando o único filho que ainda vivia com ela se despede  da mãe para morar sozinho. A partir de uma relação que Lurdes constrói com Zuleide (Arlete Salles), sua nova vizinha, ela tenta procurar um sentido para sua nova vida e isso inclui um novo parceiro. É então que, em um forró, ela conhece Mário Sérgio (Evandro Mesquita), um homem sozinho como ela que também está à procura de um novo significado para sua vida.

Dona Lurdes – O Filme é roteirizado por Manuela Dias, autora de Amor de Mãe, e tem a direção de Cristiano Marques, um dos diretores da telenovela. Tanto Marques quanto Dias se esforçam bastante para evitar que Dona Lurdes – O Filme passe aquela impressão de especial de TV  que acabou parando na tela grande. O filme acaba ganhando uma certa autonomia quando encontra um arco para personagem, ainda que seja refém de alguns cacoetes comuns a esse tipo de projeto, como a inserção de personagens da novela que não movem muito a história, mas que estão ali por alguma razão afetiva, como é o caso de Sandro, interpretado por Humberto Carrão, e Durval de Enrique Diaz, além, claro, da participação musical de artistas populares, no caso, João Gomes. Mesmo com todas essas distrações, que surgem em razão do filme ter que atender às demandas comerciais que o originaram, Dona Lurdes – O Filme consegue ter muitas virtudes.

Dona Lurdes - O Filme

A força-motriz do projeto é mesmo o retorno da personagem-título, uma criação impecável que é fruto da parceria entre Manuela Dias e Regina Casé. Desde a TV, Lurdes é uma personagem que transborda carisma na tela. A maior virtude (e a “chave do sucesso”) do trabalho de Dias e Casé com essa personagem é inserir elementos de humor em uma mulher que vive dramas e dilemas críveis. Lurdes nunca foi uma personagem de sitcom na novela e ela não o é no filme, ainda que este tenha uma abordagem mais leve do que Amor de Mãe. Em Amor de Mãe, Casé fez de Lurdes uma síntese da mãe brasileira, tornando o humor parte da experiência daquela mulher, mas não a sua comunicação dominante com o público. Lurdes é espirituosa e tem algumas “tiradas” espontâneas, mas comove as plateias com sua simplicidade e sua genuína dedicação aos filhos, é uma figura complexa, de “carne e osso” e que conquista a simpatia do público instantaneamente.

Dona Lurdes – O Filme sai melhor do que a mais pessimista das suas expectativas. A princípio todos temiam por um spin-off mal feito, que exploraria de maneira forçada a continuidade de uma história cujo desfecho já fora cravado na televisão. Não estamos diante de uma joia do nosso cinema, mas Dona Lurdes – O Filme encontra formas genuínas de manter o legado da personagem, oferecendo uma obra popular que não subestima a sensibilidade do seu espectador.

Direção: Cristiano Marques, José Luiz Villamarim

Elenco: Regina Casé, Evandro Mesquita, Arlete Salles

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