Desconhecidos (2024)
Willa Fitzgerald em cena de 'Desconhecidos (2024)'

Crítica: Desconhecidos

Crítica: Desconhecidos
4.4

Centenas de milhares de longas-metragens de terror são lançados durante o ano, mas, por falta de investimento, muitos filmes de qualidade acabam se perdendo ou ficando limitados aos festivais de cinema. A prova disso para a realidade das produções brasileiras foi o ponto fora da curva feito pela campanha de Ainda Estou Aqui (2024) que, por ter verba, conseguiu ter fôlego para alcançar altos voos que poucos sonham – rendendo para o país o primeiro Oscar de Melhor Filme de Língua Não Inglesa.

É claro que ser um projeto brasileiro, latino, tudo se torna ainda mais difícil. No entanto, alguns projetos independentes dos Estados Unidos também acabam se perdendo no processo e não saindo de seu país. Outros, já conseguem elaborar um processo de distribuição internacional, mesmo que tardia, como é o caso de Desconhecidos. Com sua primeira exibição em setembro de 2023 num festival de cinema no Texas e o lançamento oficial nos EUA em agosto do ano passado, o filme só conseguiu chegar aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27).

Apesar do ‘atraso’ para ser conhecido pelo público brasileiro, Desconhecidos ainda foi capaz de ir além na peneira – coisa que muitos não conseguem. Com sua estreia no Brasil, os fãs de suspense e terror poderão conhecer o trabalho do diretor e roteirista JT Mollner, que ganhou visibilidade desde o lançamento no Fantastic Fest. O sucesso do filme nos Estados Unidos foi tamanho que o cineasta está entre os cotados para dirigir o próximo longa da franquia O Massacre da Serra Elétrica que está em desenvolvimento. O mais novo lançamento é o segundo longa-metragem da carreira de Mollner.

Dentre essas centenas de milhares de produções do gênero que estreiam todo ano, alguns realmente fazem um favor para o público caindo no esquecimento. Enquanto isso, outras fazem falta se não alcançam mais pessoas, seria o caso de Desconhecidos se não tivesse chegado aos cinemas nacionais. A sorte dos fãs do terror é a distribuição brasileira pela Paris Filmes para que os espectadores conhecessem um possível expoente do horror. O trabalho do cineasta estadunidense é impressionante e de tirar o fôlego.

Além de dirigir, Mollner também é o responsável por assinar o roteiro do projeto com sua narrativa chocante. A história é dividida em capítulos e contada de forma não linear, o que intensifica a tensão e mantém os plots ainda mais escondidos. Essa receita gera um resultado inesperado para o público. Desconhecidos é daqueles filmes que sabem utilizar o tempo do texto ao seu favor por entender que cinema é ritmo.

Desconhecidos (2024)
Willa Fitzgerald em cena de ‘Desconhecidos (2024)’

Assim como uma orquestra segue o tempo da regência, um filme precisa saber se guiar por suas nuances narrativas. Esse objetivo só é alcançado, contudo, quando as figuras que escrevem e dirigem a história estão em consonância e conseguem comandar a engrenagem com maestria. No caso de Desconhecidos, JT Mollner tanto é o regente da obra, como seu compositor. Centralizando o cerne do processo criativo primário desse longa independente, o cineasta elabora uma produção que demonstra sua qualidade técnica e criativa no cinema.

A precisão do roteiro e direção de Mollner são acompanhados por uma equipe técnica e um elenco que apenas faz o filme crescer. A belíssima fotografia de Giovanni Ribisi, a montagem certeira de Christopher Robin Bell e o rico design de produção de Priscilla Elliott elevam ainda mais o potencial de Desconhecidos. Ao aliar uma narrativa coesa e forte com uma técnica maravilhosa e um elenco potente, o resultado não poderia ser diferente.

Para completar a qualidade vista em tela, é preciso falar do elenco principal, especialmente a dupla de protagonistas. Kyle Gallner (Sorria, de 2022, Sorria 2, de 2024), o novo queridinho do horror consegue levar o público em sua rede de possibilidades para as ações do seu personagem, chamado de ‘O Demônio’. Ele convida o espectador com seu carisma para, logo depois, nos chocar com seu alcance cênico e visceral. Sua entrega em Desconhecidos prova mais uma vez o seu inegável talento.

A performance de Gallner, no entanto, nada seria sem a troca com sua protagonista, nomeada de ‘A Dama’. Willa Fitzgerald (A Queda da Casa de Usher, de 2023) em cena é algo de outro mundo. Quem diria que a jovem travada da primeira temporada de Scream (2015-2016) tinha todo esse potencial dentro dela. Fitzgerald é uma força da natureza ao longo dos 90 minutos de filme. Desconhecidos é o que é e causa esse frenesi em quem assiste porque a estrela do projeto foi capaz de incorporar o que o texto e a direção exigia.

É inspirador ver a destreza de Willa em cada sequência da produção. A atriz só mostra seu crescimento desde a série slasher, seguida de sua performance interessante na minissérie de Mike Flanagan, culminando num trabalho verdadeiramente de tirar o fôlego. Existem filmes que podem ter toda a qualidade técnica e criativa, mas que não alcançariam seu potencial total sem aquela interpretação certa. É isso que Willa Fitzgerald entrega para Desconhecidos, a atuação perfeita.

 

Direção: JT Mollner

Elenco: Willa Fitzgerald, Kyle Gallner, Barbara Hershey e Ed Begley Jr.

Assista ao trailer!