De Volta ao Baile é uma das estreias do mês da Netflix e conta com Rebel Wilson (Megarromântico) como protagonista. Existem múltiplos caminhos pelos quais essa crítica poderia se enveredar. Ao mesmo tempo que há muito o que se falar sobre a comédia romântica (meio) adolescente, também não existe tanto assim para ser dito. Isto porque existem diversas coisas que já foram ditas sobre obras assim – como o cansaço com a insistência em provocar o riso sem uma construção firme ou a inserção de um número demasiado de plots, que faz com que o enredo não dê conta de se aprofundar em nada.
Ao mesmo, entre os incômodos provocados pela produção e alguns acertos – bem poucos, mas eles existem –, o longa-metragem pode evocar algumas discussões relevantes, como a infeliz escolha de retratar personagens de mulheres sáficas com solteironas atrapalhadas, sendo ela aqui a Martha (Mary Holland/Molly Brown), melhor amiga da personagem principal. Todavia, para além destes fatos, a pior característica do filme é a falta de aprofundamento das relações, dos conflitos ou de qualquer elemento colocado na tela.
Stephanie (Rebel/Angourie Rice) sofre um acidente que a deixa em coma por 20 anos. Quando ela acorda, decide retornar ao seu colégio e terminar o último ano letivo. Há toda uma atmosfera de reconstrução dos anos 2000 na fase pré-queda de Stephanie, com revistas, músicas e roupas bem características da época. Dentro desta premissa principal, para além do contexto social e temporal, também existem as pessoas que Stephanie (pai, ex-namorado, melhores amigos, rival etc). Cada um deles ganha uma espécie de subplot e é aí que a narrativa se complica.
Não conseguindo dar conta de sua trama central, o roteiro ainda traz problemáticas e questões de muitas personagens, o que faz com que cada perspectiva não consiga ser desenvolvida. O que ganha espaço, na verdade, são as gags performadas por Rebel Wilson, que não vão ter graça justamente pelo fato de que é preciso criar laços e intimidade com o espectador para que as piadas tenham o espaço e o efeito desejados. Do contrário, o que acontecerá é o que ocorre em De Volta ao Baile: sketches apelativas, que além de gerarem constrangimento em quem assiste e até mesmo são desconexas com as características centrais da personalidade das personagens.
Um exemplo é a cena em que Rebel dança, fazendo uma paródia do videoclipe de Britney Spears. Nesta sequência é possível notar que Stephanie tem um olhar diferente para a realidade, no qual um tipo de megalomania se faz presente. No entanto, este detalhe sobre ela fica isolado, não sendo investigado ou posto em evidência em outros momentos, exceto no seu retorno ao colégio. Isto se agrava se uma comparação entre Stephanie adolescente e adulta for feita. De alguma maneira, em sua fase teen ela possuía camadas e conflitos palpáveis, como a perda da sua mãe.
Contudo, características da construção de personagem feita por Angourie se perdem com Rebel, que esvazia os sentimentos mais intensos do papel, transformando todas as suas aparições em piadas.
Desta maneira, De Volta ao Baile pode ser um produto nostálgico para millennials e entregar alguns instantes mais sólidos, como o seu desfecho amarrado, que encerra a jornada de Stephanie. Todavia, é preciso lembrar que este é um longa que tem mais falhas do que acertos, pois em seu esforço em causar gargalhadas, ele esquece de olhar para a sua história verdadeiramente, planificando personagens, deixando subplots esquecidos e cansando o público com tentativas exageradas de fazer rir.
O maior exemplo disto é a criação e manutenção do relacionamento de Stephanie com sua inimiga Tiffany (Zoë Chao/Ana Yi Puig), que se centra apenas nas brigas bobas das duas. Ainda que as cenas entre elas sejam as mais criativas em termos de direção, o fato de que Tiffany foi a responsável pelo acidente de Stephanie é completamente deixado de lado. Assim, são nestes esquecimentos que o filme se torna também esquecível .
Direção: Alex Hardcastle
Elenco: Rebel Wilson, Zoë Chao, Angourie Rice
Assista ao trailer!