Pureza

Crítica: Pureza

2.5
Em Pureza, Dira Paes interpreta a mulher que dá título ao filme dirigido e co-roteirizado por Renato Barbieri (de Atlântico Negro: Na Rota dos Orixás). Pureza é uma mulher que teve um papel fundamental na luta contra o trabalho escravo no Brasil no início dos anos 1990. Quando o filho Abel parte para o garimpo na Amazônia em busca de melhores condições de vida e seu paradeiro fica perdido, Pureza vai em busca do rapaz. Na sua jornada, Pureza se infiltra como cozinheira em um esquema de cárcere de trabalhadores rurais e passa a ser elemento fundamental na denúncia do crime para autoridades do governo federal da época.
O longa de Barbieri deseja conquistar o espectador pela emoção, o que traz para a produção prós e contras. De um lado, o drama biográfico se perde nessa vocação pelo melodrama, “pesando a mão” em situações que não precisavam de uma intervenção mais drástica dos realizadores, ao mesmo tempo que tende a uma reiterada apresentação de diálogos artificiais, que vez ou outra soam inorgânicos na boca dos seus atores. Apesar disso, Pureza apresenta um tipo de cinema infelizmente raro no Brasil, sempre polarizador entre produções populares e filmes que, infelizmente, acabam reduzidos ao circuito dos festivais. O longa de Barbieri consegue se comunicar com públicos diversos, se enquadrando em uma cinematografia adulta que não perde de vista seu apelo popular.
Sem dúvida, o maior acerto do drama é ter uma atriz do calibre de Dira Paes como protagonista. Paes enche Pureza de credibilidade, tornando aquela figura real e comovente por sua simplicidade, sensibilidade e força. É formidável como na medida em que sua personagem se embrenha naquele ambiente hostil, Paes equilibra medo e coragem na sua interação com os peões e com o hostil “empregador” interpretado por Flávio Bauraqui. A atriz dá corpo e alma a uma mulher crível que tem vocação para o acolhimento, se apresentando como alguém cuja fé é fortalecida pela religiosidade, mas que em momento algum deixa de lado sua humanidade. A composição de Paes é tão irretocável que o espectador praticamente esquece que quem está na tela é uma veterana. A Pureza de Paes existe como uma força que transborda os espaços da tela.
Pureza
Até o instante em que Pureza começa a trabalhar como cozinheira infiltrada, o longa se apresenta como uma obra consistente com Dira Paes no completo domínio da situação. Os problemas de Pureza começam quando a personagem passa a se articular em movimentos sociais e busca apoio em autoridades públicas. No terceiro ato, o drama parece ter pressa para entregar um desfecho na história da personagem adotando um ritmo frenético na solução dos seus principais conflitos, a desarticulação do esquema criminoso por Pureza e o seu encontro com o filho Abel. Aqui, Pureza recorre a conclusões apressadas e pouco verossímeis, além de cacoetes dramáticos, como o instante em que a protagonista capta algo no fechar da porta do gabinete de um deputado.
Pureza é um filme com problemas de execução, mas é preciso frisar que eles não acompanham toda a produção, mas a fragiliza nos seus momentos finais. É inegável, no entanto, a força que a interpretação de Dira Paes move nesse drama. Em uma performance riquíssima de detalhes, humana, enfim, magnética, a atriz capta o espírito da sua protagonista: uma mulher que conseguiu contornar o inferno que viveu por conta da sua vocação de oferecer afeto aos outros.  Não é exagero afirmar que o que Paes conseguiu no filme é um feito que poucas artistas conseguem, apresentar uma interpretação tão grandiosa que, se não apara as complicadas arestas deixadas por roteiro e direção, ao menos tornam o longa uma boa experiência no cinema.

Direção: Renato Barbieri

Elenco: Dira Paes, Flavio Bauraqui, Matheus Abreu

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