Crítica: O Jovem Messias

Neste feriado de Páscoa, estreia mais um filme sobre a vida de Jesus. Adaptação do livro da autora Anne Rice (Entrevista com o Vampiro), O Jovem Messias conta um pouco sobre a infância do filho de Deus, no período no qual sua família saiu do Egito. Após uma visão de José, num sonho, eles decidem viajar para Nazaré. No caminho, o garoto começa a questionar seus poderes e amadurecer sua fé.

O roteiro busca explorar um período pouco visto em histórias sobre Jesus, mostrando o bullying que o garoto passava por ser especial e as perseguições que já sofria desde muito jovem. Apesar de ser mais uma daquelas películas de Páscoa, os criadores tentaram trazer algo de novo para contar um enredo que já parece tão batido.Ainda que exista tal intenção, o potencial de O Jovem Messias para por aí.

Os figurinos e os elementos de cena não são distintos de qualquer longa de Sessão da Tarde sobre Jesus, ficando nesse limiar entre boa e má execução. Em alguns momentos, o público pode pensar que a caracterização foi bem pensada, a exemplo dos trajes do exército romano ou, em outras, bem desastrosa, vide a roupa da amante de Herodes II, que mais parece saída da primeira loja de vestimentas de dança do ventre que eles encontraram.

Outra gafe foi a escolha dos atores que fazem os vilões do filme: Jonathan Bailey (Juventudes Roubadas), que interpreta Herodes II e Rory Keenan (Uma garota Encantada), no papel do demônio. Os dois banham a tela de exagero e afetação. Entre as gesticulações desnecessárias e os olhares arregalados, qualquer cena torna-se quase cômica, ao invés de passar intimidação ou medo.

O restante do elenco permanece numa zona inconstante, indo do apelo emocional mal feito, passando pela mediocridade, na qual se vê que qualquer ator poderia estar naqueles papéis. Os atores pareciam estar ausentes da cena, deixando seus corpos vagarem, enquanto a história era contada.

messiah
A salvação: Interpretação do protagonista é um dos melhores aspectos do esquecível longa sobre os primeiros anos de Jesus.

Contudo, existe uma salvação no elenco: o carismático Adam Greaves-Neal (Sherlock), no papel do jovem Jesus. Estreante nas telonas como protagonista, o menino consegue conectar o espectador com a narrativa e constrói com maturidade sua personagem, se saindo melhor do que os veteranos que lhe acompanham.

Ainda que Greaves esteja na medida, o mesmo não se pode dizer sobre a película. Há uma busca – barata – de comover o público, com direito a trilha apelativa, closes em rostos desesperados, zoom in na lágrima, momentos que parecem ter sido escritos e dirigidos por artistas de novelas mexicanas. Num ritmo lento e entediante, o melodrama se instala, revelando o desespero da equipe para fazer o espectador chorar. No que parece um convite para o abalo das emoções, o tempo parece não passar, enquanto o demônio e Herodes II criam situações de sofrimento para o povo e há apenas uma salvação: o menino Messias.

Constantemente é repetido na projeção que Jesus é apenas uma criança, mas, ao mesmo tempo, o discurso é de que, na verdade, ele não é um menino. Nessa contradição, são mostrados milagres e os momentos de diversão do garoto, brincando com seu camelo, sofrendo preconceito por ser diferente e correndo na chuva com o primo. Essa mistura entre criador de milagres e jovem comum poderia ter sido bem executada, dando densidade ao longa, porém esse aspecto soa mais como um discurso confuso, no qual as próprias personagens parecem não saber o que estão falando, nem mocinhos, nem vilões.

O Jovem Messias é uma película mediana, com raros momentos de qualidade, passeando pela mediocridade e facilmente esquecido ou confundido com seus antecessores que contam a vida de Jesus. Para quem gosta de histórias religiosas, a dica é esperar mais um pouco e assisti-lo na televisão, na próxima Páscoa.

NOTA: 4