Está disponível na Netflix o longa Cidade de Gelo, uma produção russa de romance e aventura que certamente vai amolecer o coração da galera mais emocionada. A história se passa na virada do século 19 para 20 em São Petersburgo, onde o gelo toma conta da cidade e os canais viram pistas de patinação e locais para feira livre. Matvey é um jovem batalhador que trabalha com entregas, mas acaba sendo demitido por conta de um atraso. Indignado, ele acaba sendo captado por uma pequena gangue de marginais que realizam furtos na cidade, com a ideia de que estão apenas tirando dinheiro dos ricos mais abastados, para equilibrar o sistema. Em uma de suas primeiras experiências como meliante, ele acaba conhecendo Alice, por quem rapidamente apresenta interesse.
Uma história de aventura regada com muita patinação no gelo e luzes de Natal deixando os cenários ainda mais virtuosos. É curioso ver como se desenvolve um roteiro na Rússia, local onde pessoalmente não estou tão acostumada a acompanhar produções. Entendemos um pouco mais da história e cultura deles, enquanto apreciamos a construção de um romance. Aliás, este é um dos primeiros pontos altos da trama. Com mais de 2h de duração, Cidade de Gelo não corre ao nos apresentar os personagens, suas questões e a forma como eles vão se entrelaçar. Aos poucos, nos envolvemos com todos e conseguimos entender as suas perspectivas.
Alice é uma menina rica da burguesia que tem o sonho de estudar o ensino superior. Na realidade em que vive, ela precisa de autorização do pai ou do futuro marido para adentrar na faculdade. Por isso, fica lendo os mais diferentes tipos de livros no seu quarto, enquanto almeja essa oportunidade. Se envolver com Matvey vai muito além de uma simples aventura de menina birrenta. Ele se torna o olhar dela para o mundo exterior, a sua possibilidade de vislumbrar um futuro diferente.
Ao mesmo tempo, ele vive com a dualidade de estar desagradando ao pai doente com os furtos, mas conseguindo acumular algum dinheiro que será destinado ao tratamento médico. Sem dramatizar demais, o filme coloca essa situação como apenas um ponto em questão na narrativa do protagonista, que tem tantos fios a serem explicados.
Em um cenário belíssimo de inverno rigoroso, com vestimentas acuradas do passado e uma trilha sonora assertiva que envolve Claude Debussy com Clair De Lune, somos envolvidos pela história, pelos personagens e toda aquela narrativa romântica bem construída a partir de diálogos que não duvidam da inteligência do espectador.
Num equilíbrio muito coerente entre os gêneros que envolve – romance, aventura, fantasia – Cidade de Gelo é uma grata surpresa aos emocionados de plantão. Vale muito a pena conferir!
Direção: Michael Lockshin
Elenco: Fedor Fedotov, Sofya Priss, Kirill Zaytsev, Yuriy Borisov, Aleksei Guskov, Yuri Kolokolnikov
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