cascavel

Crítica: Cascavel

Com apenas uma hora e vinte cinco minutos de duração, Cascavel é um batalha contra o tempo. Tanto de sua protagonista quanto do diretor Zak Hilditch (1922), que precisa estabelecer seu suspense rapidamente. Por isso, na faixa dos cinco minutos, a trama já está em jogo. Katrina (Carmen Ejogo, Ao Cair da Noite) e sua filha pequena viajam para o Texas de carro até que, após pegarem um desvio, o pneu fura. Enquanto a mãe conserta o carro, a menina vai brincar no mato e é picada por uma cascavel. Desesperadas, elas vão parar em um trailer no meio do nada e uma mulher misteriosa cura a jovem. No entanto, este gesto aparentemente altruísta tinha seu preço.

Com uma compressão temporal, Hilditch cria um contraste muito eficiente e incômodo ao modificar as noções espaciais. De tal maneira, o diretor usa um campo de profundidade profundo em cenas de interior, fazendo com que perca-se a noção do verdadeiro tamanho daqueles lugares, como o hospital ou o trailer, trazendo uma claustrofobia. De mesmo modo, planos gerais e aéreos fazem com que a protagonista pareça isolada e pequena diante de todo o infinito deserto.

Similarmente, a edição corta para diversos planos de relógios batendo e do Sol queimando, contribuindo para essa distorção no espaço-tempo criada. Além disso, a mixagem de som intercala tic-tacs de um relógio, choros de bebês, torneiras pingando e ruídos de máquinas hospitalares. Assim, através desses artifícios técnicos, Cascavel é muito mais uma experiência sensorial do que uma história complexa de suspense ou terror.

Justamente por isso, o background de mãe e filha é indicado rapidamente através de elementos audiovisuais. Primeiramente, Katrina checa o celular e vê várias mensagens de um homem — provavelmente o marido —  pedindo para que as duas voltem. Depois, ela liga um podcast na rádio falando que é necessário passar por dificuldades e stress para encontrar um antídoto para seus problemas. Logo, em apenas um minuto, o roteiro já estabeleceu todas as motivações e problemas da personagem. Não só precisa encontrar o antídoto da cobra, como também precisa encontrar a cura para a recém separação.

cascavel

Com todos seus elementos sufocantes enraízados tanto na mente do espectador quanto de Katrina, Cascavel cria um ambiente perfeito para que a realidade seja confundida com alucinações. A partir deste sonho acordado, os acontecimentos da narrativa vão colocando a mãe em situações limites que ela jamais se imaginou.

Desconfiada de tudo e todos, Carmen Ejogo incorpora muito bem essa descrença através de seus olhos, cada vez mais incrédula com o que vê. Conforme o ambiente ao seu redor vai ficando mais estranho e hostil, suas reações físicas também acompanham essa mudança ansiosamente. Além da atriz, não há nenhuma outra aparição regular no elenco, repleto de personagens misteriosos que cruzam rapidamente com Katrina, mas, com pouco tempo de tela, todos incorporam personas misteriosas o suficiente para causar desconforto, como o vendedor de arma que diz: “Quando as estradas deste país se tornaram uma selvageria?”.

Aliás, a partir da metade da trama, Katrina cruza com o casal Billy (Theo Rossi, Juice de Sons of Anarchy) e Abbie (Emma Greenwell, Shameless). Quando percebe que o homem bate na mulher, a protagonista percebe uma oportunidade para casar sua missão com a oportunidade de interromper um relacionamento abusivo. É muito interessante que o roteiro coloque essa situação como o ponto de virada para a personagem, pois, apesar de nunca deixar claro, algo aconteceu entre ela e o pai de sua filha. Ao tentar salvar Abbie, ela provavelmente está expulsando os fantasmas de seu casamento anterior.

Ao fim, Cascavel, apesar de não dar sustos, consegue fazer com que a audiência praticamente sinta-se angustiada diante do sol escaldante do deserto do Texas batendo em suas costas. Resumidamente, é um filme quente, algo que fica claro pelo figurino dos personagens. A cobra, com suas mudanças de pele, é um símbolo da renovação e regeneração. Antes de seguir em frente com a filha, Katrina precisava passar por uma grande prova de fogo.

Direção: Zak Hilditch

Elenco: Carmen Ejogo, Theo Rossi, Emma Greenwell

Assista ao trailer!