Fazer um bom filme de terror, daqueles de gelar a espinha, é uma tarefa árdua. Pode parecer um gênero fácil de se orquestrar dado o senso comum sobre as suas características gramaticais: casas assombradas por eventos sobrenaturais, a produção de sustos, a estética sombria, a redenção de um protagonista de passado comprometedor ou traumático através de uma experiência assustadora… Acontece que por trás de tudo isso existe uma coesão narrativa que faz com que todos esses elementos surtam um efeito de terror preciso nas plateias, ou seja, não basta inseri-los na tela para achar que tem-se concebido um filme do gênero eficiente, é preciso muito mais trabalho para fazer com que esses elementos de fato funcionem e a história se desenvolva com fluidez. Esse não é o caso de Boneco do Mal, um filme que se apropria dos recursos do gênero que acabamos de mencionar, mas que não consegue produzir essa coesão narrativa que confere todo sentido a esses elementos do terror.
No longa, Lauren Cohan, da série The Walking Dead, vive Greta uma norte-americana que se candidata a babá na casa de uma família em um vilarejo da Inglaterra. Lá mora um casal e seu filho de oito anos de idade chamado Brahms. Quando chega ao local, a personagem dá de cara com uma revelação inesperada, a criança que o casal tem como filho é na verdade um boneco de porcelana que os dois passam a cuidar como uma forma de superar um trágico evento envolvendo a morte do verdadeiro Brahms vinte anos atrás. Acontece que existe muito mais coisa por trás desse estranho núcleo familiar e Greta começa a presenciar uma série de eventos sobrenaturais aparentemente vinculados a presença do boneco na casa.
Para começar, o grande tropeço de Boneco do Mal como filme de terror é que ele nunca consegue gerar qualquer tipo de efeito sensorial na plateia, pelo menos as mais experientes no gênero – e acredito que as menos experientes também, para ser bem sincero. Toda a trama em torno do boneco Brahms e a tentativa do diretor William Brent Bell de torná-lo uma presença incomoda e macabra no filme vai por água abaixo. Bell tenta evocar uma certa atmosfera apavorante em torno do boneco, peça fundamental na sua história, que nunca se concretiza. Até mesmo visualmente o boneco Brahms não causa nenhum calafrio, é uma presença indiferente na tela, ainda que o diretor saliente a natureza macabra dele com planos que o ponham em evidência e que os personagens, sobretudo a protagonista Greta, se dirijam a ele com um certo temor e respeito. Assim, existe toda uma atmosfera que tenta construir Brahms como uma presença assustadora no filme, mas nada disso surte efeito, o boneco parece para a plateia como uma figura inofensiva e apática no filme, permanecendo assim até o último ato da história.
Em alguns momentos chega a ser risível a forma como a protagonista da trama acredita que o boneco Brahms tenha vida própria e esteja maquinando determinadas travessuras com ela. E é nesse clima de terror ineficaz que está apenas na cabeça do seu diretor e nos seus truques e repetições mecânicas de recursos do gênero que Boneco do Mal mostra a sua completa fragilidade do início ao fim. Mesmo quando ganha a oportunidade de dar a volta por cima em sua narrativa trôpega com as revelações do terceiro ato, o longa não consegue seguir um caminho que o retire da sonolência e da completa banalidade ou indiferença. Nada nele é orgânico, espontâneo, tudo é fruto de uma cartilha que o próprio realizador parece não entender pois para que qualquer desses recursos fizesse o menor efeito no público era preciso que sua história fosse sustentada em bases sólidas e não artificiais como aquelas que orientam um filme que apenas simula uma certa coerência e norte narrativo. Da maneira que se apresenta ao público, Boneco do Mal é um longa repleto de artificialidades.