Crítica: Boa Noite, Mamãe!

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Perspectiva infantil: Centro da história está no olhar dos gêmeos Elias e Lukas para a sua própria dinâmica familiar.

 

Aclamado por parte da crítica desde a sua passagem por alguns festivais de cinema, o austríaco Boa Noite, Mamãe! é um exemplar raro vinculado ao gênero terror, mas que não necessariamente enquadra-se somente nessa definição. O filme destaca-se pois, antes de qualquer coisa, preza pela consciência dos seus realizadores por uma narrativa audiovisual eficiente e muito bem conduzida. É nisso que reside a “fórmula” do seu sucesso. Sem apelar para truques de cartilha que são mais do que conhecidos do nicho de filmes ao qual inevitavelmente acaba se filiando, Boa Noite, Mamãe! costura uma história tensa e macabra repleta de tensões e revelações orquestradas não apenas pela construção de ações e reviravoltas de um roteiro ou pelas sequências de tortura que acaba trazendo, mas também pela exposição de um excelente trabalho de composição e atmosfera visual apresentado pelos seus diretores Veronika Franz e Severin Fiala.

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Êxito: Filme austríaco sustenta-se pela excelente utilização de recursos visuais em prol da sua própria narrativa.

 

Ancorado inicialmente na percepção que os seus dois protagonistas têm das suas próprias histórias, os gêmeos Lukas e Elias Schwarz, ótimos em cena ao darem vida a personagens que levam os seus próprios nomes, o filme de Franz e Fiala explora de maneira peculiar a psiquê infantil, um tema recorrente ao gênero terror e que sempre rendeu excelentes obras. No longa, os gêmeos vivem com sua mãe em uma casa isolada do mundo. O público não é completamente inteirado sobre o que aconteceu com a família, mas algumas pistas são dadas: aparentemente, a mulher se separou do marido e acaba de sair de uma cirurgia realizada no próprio rosto, que encontra-se coberto por ataduras. As crianças não reconhecem mais a sua mãe que, na perspectiva deles, começa a apresentar um comportamento esquisito ou pelo menos bem diferente do que costumava ter antes dos eventos.

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Tensões: Longa constrói uma atmosfera soturna e instigante sem recorrer a fórmulas de cartilhas cinematográficas batidas.

 

Prendendo o espectador do início ao fim da sua história na expectativa do desenlace de sua trama central sem construir armadilhas para si próprio, como eventuais “barrigas” na trama, Boa Noite, Mamãe! é um longa que não decepciona quando chega ao seu terceiro ato, oferecendo uma solução satisfatória que nos remete a alguns dos melhores desfechos do gênero. Franz e Fiala conseguem construir, ao lado dos desempenhos dos gêmeos Schwarz, uma atmosfera dúbia, na qual o espectador assume posições diferentes sobre a história a cada momento em que ela avança, sentindo em dada situação ora empatia pelas crianças, ora por sua mãe. O longa ainda apresenta excelentes composições visuais através de um trabalho refinado de fotografia que marca ao integra-se aos propósitos da sua narrativa e não apresenta-se como um recurso aleatório de hermetismo visual.

Visual e narrativamente sedutor, Boa Noite, Mamãe! é um longa bastante eficiente, que, acima de tudo, cumpre muito bem as suas funções e propósitos. Sustentando sua narrativa na modelagem de uma trama sombria que penetra no universo infantil e nos aspectos mais sombrios dos seus personagens, o longa é uma eficiente realização do seu gênero, mas ganha ao entender que acima de tudo deve oferecer ao seu público uma trama que extrapole as expectativas de sua cartilha. Diferente de alguns exemplares da “espécime” norte-americanos que se reproduzem  cotidianamente nas salas de cinema, o filme dos austríacos Veronika Franz e Severin Fiala produz uma história com seus próprios termos e em seu próprio ritmo, usando com precisão e economia os recursos do terror em uma história que revela-se múltipla em suas pretensões e produções de efeitos. Sem sombra de dúvidas, vem dessa postura de trabalho todo o êxito do longa.