Crítica: As Tartarugas Ninja

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Ícones da cultura pop: Michelangelo, Leonardo, Rafael e Donatello retornam de um jeito mais sério do que o esperado.

 

Costuma-se dizer que o universo sombrio e realista das franquias O Cavaleiro das Trevas e X-Men, de Christopher Nolan e Bryan Singer, influenciou todos os filmes de super-heróis que os seguiram. De repente, todo longa protagonizado por indivíduos com super-poderes precisam justificar sua urgência colocando seus personagens em dramas existenciais e associações com problemas políticos e sociais como o terrorismo e o preconceito. Muitas vezes isso não é necessário, já que Batman e o grupo do Professor Xavier se apresentam assim porque seus contextos exigem isso deles. Em muitos casos, a única coisa que se exige desses longas é que eles entretenham e embarquem no teor fantástico de suas respectivas premissas, claro que tudo isso obedecendo às “regras” básicas de qualquer filme que anseia ser qualificado enquanto cinema: desenvolvimento de personagens, dinamicidade do roteiro e apuro técnico. Afinal, entretenimento não significa burrice ou desleixo. Dito isso, vamos a As Tartarugas Ninja, um filme que preferiu buscar a inspiração em toda sorte de histórias de super-heróis, menos na sua própria origem.

O novo longa baseado nos icônicos personagens de Peter Laird e Kevin Eastman retomam a gênese dos heróis, tartarugas mutantes com incríveis habilidades para técnicas de luta oriental que vivem no esgoto e atuam clandestinamente como vigilantes. Eles são descobertos pela repórter de TV April O’Neil, que enxerga neles a sua chance de ser levada a sério no trabalho, deixando de cobrir pautas frívolas de entretenimento. No entanto, April descobre que Michelangelo, Raphael, Leonardo e Donatello têm uma conexão com o seu passado e com o trabalho do seu falecido pai.

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Os humanos April O’Neil (Megan Fox) e Vernon (Will Arnett): Piadas isoladas em um universo muito mais sombrio do que as origens dos personagens sugerem.

 

Produzido por Michael Bay, o homem responsável pela franquia Transformers, entre outras bombas cinematográficas, As Tartarugas Ninja foi dirigido por Jonathan Liebesman, de Invasão do Mundo – Batalha de Los Angeles e Fúria de Titãs 2, mas isso é um mero detalhe. Do início ao fim, As Tartarugas Ninja se apresenta como um autêntico produto “Michael Bay”, exibindo as marcas nada agradáveis da filmografia do diretor, desde a inserção nada discreta da publicidade, como no momento em que o mestre Splinter oferece aos tartarugas uma pizza de uma cadeia de restaurantes famosa em todo o mundo, até o machismo com que costuma tratar suas personagens femininas, em dado momento de extremo perigo, por exemplo, eles têm tempo de fazer uma “brincadeira” com o traseiro de April O’Neil, uma Megan Fox que, por sinal, surge visualmente impecável (para que tanta maquiagem???) nos momentos menos propícios. Sem falar nas extensas e hiperbólicas sequências de ação e nos momentos em que a câmera filma os seus personagens de cima para baixo, um recurso utilizado sem a menor justificativa.

Contudo, o que mais incomoda em As Tartarugas Ninja é o fato do filme se levar a sério demais. Tendo como protagonistas tartarugas (!), ninjas (!!), mutantes (!!!), adolescentes (!!!!) apaixonadas por pizza (!!!!!) e treinadas por um rato que as adota como pai (!!!!!!!!!) era de se esperar que o longa utilizasse isso a seu favor e “brincasse” mais com o espectador e com o próprio universo, como a série animada e os filmes anteriores faziam. No entanto, Bay e Liebesman preferem transformar As Tartarugas Ninja em um filme sombrio com um leve teor trágico, ou seja, erraram por completo no tom da história, pegaram pesado demais.

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Splinter enfrenta o Destruidor: Confrontos do filme são exagerados e extensos como sempre acontece nos filmes do seu produtor, Michael Bay.

 

As Tartarugas Ninja , no final das contas, acaba sendo um projeto sintomático de uma prática recorrente entre realizadores cinematográficos e estúdios. Os envolvidos na adaptação de um clássico da nossa infância preferiram olhar para o que já deu certo em outros contextos, sem levar em consideração que esses filmes que se tornaram referência no universo dos super-heróis e tiveram êxito porque atenderam a demandas do próprio material que tinham em mãos. Se Michael Bay e Jonathan Liebesman voltassem seus olhos para As Tartarugas Ninja em primeiro lugar e não para o que está fora do projeto em si, talvez concebessem um filme que, no mínimo, nos fizesse lembrar da essência da história original. Do jeito que foi feito, parece um As Tartarugas Ninja querendo ser o que não é, o Batman.