Crítica: As Sufragistas

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Resultado aquém do esperado: Filme não chega a ser um desastre, mas apresenta-se como um drama político ligado no automático.

 

A causa feminina foi um dos temas evidentes em 2015 na indústria cinematográfica. Das declarações de Jennifer Lawrence sobre a desigualdade de salários entre atores e atrizes em Hollywood ao mega-sucesso Mad Max – Estrada da Fúria e a icônica personagem interpretada por Charlize Theron no filme de George Miller, a Imperatriz Furiosa, nunca se discutiu tanto o lugar das mulheres nas narrativas cinematográficas como agora. As Sufragistas seria a “cereja no bolo” de toda esta atmosfera saudável de debates, prometendo levar a discussão para a temporada de premiações. O grande problema é que a recepção norte-americana ao filme não foi muito calorosa e o longa teve pouquíssimas menções em prêmios que antecedem o Oscar, nem mesmo nomeações ao trabalho da atriz Carey Mulligan, que parecia uma das poucas seguranças do filme, surgiram nas listas de indicados ao Globo de Ouro ou ao SAG Awards. E não é querendo ser “agorento” não, mas esta ausência é bem merecida. Ainda que As Sufragistas esteja longe de ser um desastre cinematográfico, é um filme bem morno, previsível e emocionalmente mecânico.

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Menos de 3 minutos: Meryl Streep tem pouquíssimos minutos em cena no filme “As Sufragistas”

 

As Sufragistas é baseado em eventos reais e conta parte da trajetória do movimento feminista na Inglaterra. O filme é ambientado no início do século XX e traz o grupo reivindicando o direito ao voto através de atos coordenados para chamar a atenção das autoridades públicas. A trama é centrada na adesão de Maud Watts, um jovem trabalhadora de uma fábrica, que mesmo sem ter nenhuma formação política se envolve com o movimento.

A diretora Sarah Gavron dirige o seu longa com propósitos muito claros e isso fica evidente desde o início de As Sufragistas: mostrar o quanto a causa das suas personagens foi e continua sendo importante. É uma pena que a realizadora torne tudo muito didático, usando um leve maniqueísmo na construção dos seus personagens, e flertando com chavões de dramas políticos que tornam a trama emocionalmente fria, ainda que vez ou outra busque criar uma empatia entre o espectador e a situação das suas personagens. Gavron opta por um filme burocrático, por uma narrativa “quadradona” ao estilo de telefilmes históricos da BBC, o que enfraquece e muito As Sufragistas como filme.

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Feminista por acaso: Centro da narrativa é a operária Maud Watts, interpretada com precisão por Carey Mulligan.

 

Do elenco, Carey Mulligan é o único destaque, já que a sua personagem é o centro de toda a trama de As Sufragistas. A atriz está muito bem como Maud Watts, optando por uma interpretação repleta de sutilezas. Ainda assim, é preciso sublinhar que não é o melhor desempenho da sua carreira (este continua sendo em Shame) e não mereceria menção a prêmios como alguns previram meses atrás. Os demais atores, incluindo aqui Helena Bonham Carter, Anne-Marie Duff, Romola Garai, Ben Whishaw, Brendan Gleeson e, claro, Meryl Streep, não tem grande destaque que mereça uma maior atenção, todos flanam na história de Maud Watts. Meryl Streep é o maior exemplo disso, com menos de três minutos em cena (não estou sendo exagerado, cronometrado deve dar isso mesmo), a atriz só por ter o seu nome vinculado ao projeto gera uma expectativa frustrada no público (afinal é Meryl Streep) e acaba chamando muita atenção para uma cameo, ofuscando a própria obra.

Em tom esquemático, As Sufragistas acaba se impondo pela própria história que busca contar – que de fato é muito importante e, mais do que nunca, merece ser conhecida. O filme  em si decepciona pela falta de personalidade da sua condução e por navegar em águas tão mornas que não fossem o seu desfecho e aquilo que antecede os seus créditos finais seria um filme esquecível, uma pena pois aquilo que lhe dá origem merecia um tratamento melhor.