Maestro

Crítica: Maestro (Netflix)

0.5

Conhecer sobre as técnicas cinematográficas é diferente de saber quando e como as utilizar. Mais ainda, a sensibilidade e o estudo para entender onde e qual o motivo de aplicar certas conduções na direção é o que faz com que o talento de cineastas seja percebido. Bradley Cooper se encaixa no caso daqueles que parece ter aprendido o que são as ferramentas do audiovisual, mas que ainda não chegou a conseguir refletir sobre elas. 

Assim, Maestro é um resultado desastroso, equivocado e egoico. Por que? Porque há um desespero escorrendo pela tela. A vontade que Bradley tem de parecer genial leva toda a sua equipe ao erro completo. A começar pelo próprio roteiro de Cooper – escrito ao lado de Josh Singer. Falta nele investigar as motivações das personagens e seus sentimentos. Falta conectar os acontecimentos para que eles causem emoções na plateia. Falta exemplificar e mostrar quem foi Leonard Bernstein e sua obra.

Falta tudo narrativamente falando, sobretudo coesão. Em um jogo de ideias, Maestro é um grande brainstorm textual. Ainda que seus diálogos sejam bem elaborados, eles não combinam com a correria dos acontecimentos, com os saltos temporais, que não possuem ligação. É curioso que existe um amontoado de situações dentro do longa-metragem, porém ele é repetitivo. A trama quase não anda, reiterações barulhentas ocorrem a todo tempo e o espectador pode se sentir subestimado.

As sequências parecem as mesmas desde o início da projeção e pouco é acrescentado em relação àquele universo ficcional. Para completar o roteiro confuso, existe a direção, que é ainda mais caótica. Bradley Cooper queria ser genial. Ele parece implorar ao público a todo momento: “Por favor, me achem genial”.  Com movimentações de câmera, várias angulações, mudanças de temperatura, coreografias e mise-en-scéne cheia, Bradley colocou tudo em cena e esqueceu que o filme não era um show de talentos, no qual ele deveria mostrar o que aprendeu a fazer.

Maestro

É um filme. E um filme precisa de história amarrada, que prenda a atenção. Como fazer isso se não há respiro, se não há espaço para que nada seja desenvolvido? Com sequências abarrotadas de atores, quase sempre há burburinho, rotação de câmera etc. É a famosa confusão de que ritmo é velocidade e Cooper corre bastante, nada muito, mas morre na praia. E a sua interpretação de Bernstein é a cereja do bolo. Como se já não bastasse toda a artificialidade do roteiro e da direção, Bradley Cooper consegue demonstrar incompetência até no que ele é bom.

O seu Leonard Bernstein é uma representação infantil, caricata, um holograma de um ser humano e é embaraçante de observar. Assim como a estrutura narrativa da produção, o papel feito por Cooper não tem gradação, nuance, camadas. É aceleração por aceleração, deixando que não se construa uma relação basilar para o funcionamento de uma ficção, que é a dinâmica público x protagonista. Não é possível sentir quem é aquela figura, quais são seus sonhos, pensamentos etc. Tudo fica na superficialidade e apenas duas atrizes se salvam neste contexto artificial.

Tanto Carey Mulligan (Felicia Montealegre) quando Sarah Silverman (Shirley Bernstein) entregam interpretações dignas, com alguma profundidade e equilíbrio tonal. Carey, provavelmente por apresentar mais espaço na trama, revela algumas contradições na sua própria construção, tanto no corpo como na fala, como na passagem temporal, quando se vê os filhos de Felicia e Leonard de crianças a adultos. Contudo, as falhas de Carey soam como vindas da má escrita do roteiro.

A atriz parece lutar intensamente para fazer o melhor trabalho possível, mas com dificuldades em explorar a profundidade que ela criou, pois a mesma não está impressa dentro do longa, somente em Mulligan. Assim, apresentando desconexões e desequilíbrio rítmico, Maestro se torna uma exibição entediante. O espaço que Bradley Cooper pensou que daria a ele o local de gênio, deu-lhe o local de tolo, pois ele deixa transparecer isso na falta de seleção do que mostrar de seus novos talentos adquiridos.

Existem, no entanto, opiniões outras sobre este projeto. De certo, Cooper conseguiu enganar alguns consumidores – especialistas ou não. É sempre melhor que se confira com os próprios olhos se algo é ruim mesmo ou não. Esta breve análise, que já está chegando ao fim, se encerra com a dica de que há muito para ser lido, assistido e vivido. No entanto, caso o leitor queira comprovar se concorda ou não com esta crítica, pode ficar à vontade. Um conselho: boa sorte!

Direção: Bradley Cooper

Elenco: Bradley Cooper, Carey Mulligan, Sarah Silverman

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