Anne Frank, Minha Melhor Amiga

Crítica: Anne Frank, Minha Melhor Amiga (Netflix)

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Assim como Anne Frank, Minha Melhor Amiga, quantas obras sobre a Segunda Guerra Mundial já foram criadas? Quantas perspectivas, estéticas e linguagem foram colocadas na tela para o público? Entre 1939 e 1945, o conflito global existiu e foi um dos fatos históricos mais impactantes da humanidade. O nazismo e o fascismo dominavam e o planeta acumulava milhões de mortos e uma destruição em massa. Apesar de aparecer tanto na arte, este é um assunto que jamais pode ser esquecido.

Visto que parte (estúpida) da população atual acredita que os campos de concentração são uma “hoax” ou, pior, é feita de neonazistas, é necessário rememorar o pavor e o terror de um tempo devastador. Dentre todas as formas de começar um texto sobre um filme que traz um recorte sobre a Segunda Guerra, o alerta para que os olhos estejam abertos para com discursos e ações criminosas e de discurso de ódio foi a escolhida por esta que vos escreve.

Contudo, sobre o que fala exatamente Anne Frank, Minha Melhor Amiga, o novo drama da Netflix? Depois de anos possuindo contato com a trajetória da adolescente Anne Frank, que com seu diário deixou registrado todo seu período escondida dos nazistas no Anexo Secreto, agora, o desejo é revelar o olhar de sua melhor amiga, Hannah Goslar. Dentro deste contexto, o longa-metragem explora duas vertentes.

A primeira é focada em trazer os arroubos juvenis de Anne e Hannah e a relação construída pela dupla, na época de pré-adolescência. A segunda é a do campo de concentração para onde Hanna, sua irmã caçula e seu pai foram levados. Há uma mescla temporal colocada na produção e as idas e vindas destas atmosferas é um dos pontos mais positivos do longa. As transições acontecem de maneira fluida, através de ligações voltadas para os sentimentos e pensamentos de Hannah.

A montagem colabora para que o efeito funcione e quem assiste não sente rupturas dentro desta mescla de ambientações, ainda que as atmosferas sejam bastante distintas. Este, na verdade, é um outro elemento positivo destacável. Por meio da seleção de temperaturas quentes, quando Hannah ainda não foi para o campo de concentração, e frias quando ela está lá, uma dualidade é impressa. É uma estratégia um tanto óbvia, a de colocar momentos alegrias com mais calor e fazer o oposto em instantes triste e de dor, porém é funcional aqui e transmite as emoções das personagens sem que se precise dizer muito ou que alguma informação escrita necessite ser utilizada.

No entanto, apesar de apresentar estas questões bem realizadas, o filme peca em dois quesitos que acabam por comprometer a sua totalidade. A começar pelo exagero em querer emocionar. O que aconteceu com Hannah, Anne e milhares de judeus é por si impactante. Contudo, há uma reiteração do sofrimento e isto se apresenta, principalmente, na decupagem e no roteiro. Seja pelo alongamento de alguns planos ou em movimentos de câmera, o cineasta Ben Sombogaart (O Voo das Noivas) pesa a mão na sua direção.

Quando recursos ficam repetitivos, eles perdem a sua força, como nas sequências de contagem das capturadas pelos nazistas ou naquelas dentro da enfermaria. Estas cenas semelhantes em imagem e discursos tornam a sessão mais cansativa e deixa um tom de apelação no ar. Falta explorar nos diálogos uma complexidade maior das personagens.

Elas dizem textos que soam artificiais, porque parecem escritos e performados para causar melancolia no espectador. Desta forma, Anne Frank, Minha Melhor Amiga ainda que apresente acertos, falha em querer mostrar mais do que ser. Por isso, mesmo sendo criativo em trazer a perspectiva de Hannah, a amiga sobrevivente de uma figura histórica do mundo, faltou focar mais no que poderia contar.

Direção: Ben Sombogaart

Elenco: Josephine Arendsen, Aiko Beemsterboer, Roeland Fernhout

Assista ao trailer!