Os oito filmes da franquia original de Harry Potter definitivamente marcaram o cinema mundial. Não apenas pela fantástica e detalhada história criada pela escritora britânica J. K. Rowling, como pela decisão de trazer sete livros para as telonas, dando início a uma das franquias mais bem sucedidas e rentáveis de todos os tempos.
Paralelo a isso, todo o universo de Harry Potter foi alimentado de diversas formas, com roupas, decoração, parques temáticos na Disney e outros livros que foram lançados a partir dos originais. Um deles foi Animais Fantásticos e Onde Habitam, que era nada mais que um livro utilizado pelos alunos de Hogwarts no estudo de uma das matérias e acabou virando um guia na vida real. Visto que o último filme da franquia original tinha sido lançado em 2011, os produtores, juntamente com a própria J. K. Rowling, decidiram transformar este livro em mais uma série de longas.
É perceptível que esse intuito tem dois objetivos principais: alimentar a legião sedenta de fãs que ficaram carentes após o fim dos filmes e ganhar ainda mais dinheiro em cima de uma história que continua acesa e atraindo pessoas até hoje. As duas motivações, diga-se de passagem, são bastante questionáveis e poderiam acabar gerando um grande problema, ao invés de uma possível solução.
O primeiro longa de Animais Fantásticos e Onde Habitam, no entanto, foi um sucesso. Trouxe uma história completamente diferente daquela de Harry Potter, mas manteve o mistério do universo de magia e todas as características intrínsecas a ele. Agradou aos fãs que sentiam falta desta energia e ao público em geral, que não precisava ver os oito filmes anteriores para entender qualquer coisa.
Este segundo longa propõe o desdobramento da história do primeiro, explicando um pouco mais as motivações dos personagens principais e inserindo novas pessoas no grupo. De pronto, o excesso de personagens torna a dinâmica um pouco confusa. São muitas histórias “principais” disputando a atenção do espectador e o tempo de tela. Por esse motivo, sentimos que alguns enredos acabam ficando na superfície, quando mereciam um aprofundamento maior.
Mesmo assim, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é marcado pelo aprofundamento da maioria das histórias, principalmente a de Credence. Começamos a entender os por quês que levam ele a ser uma promessa do mal, a sua história familiar e tudo mais. Ezra Miller surge mais uma vez triunfante no papel, que não poderia ser entregue a mais ninguém. A sua estranheza nata e olhar misterioso casam perfeitamente com a proposta do personagem. É uma pena, no entanto, que Credence não tenha mais tempo de tela como merecia. Existe uma promessa de que isso aconteça no próximo filme.
Além dele, a inserção física de Dumbledore (ele havia sido mencionado no anterior). Na pele do maior bruxo de todos os tempos, temos Jude Law. A princípio, me pareceu uma decisão estranha. Mas quando assistimos ao filme, vemos que foi muito acertada. Ele veste muito bem o estilo sério e descontraído de Alvo, fazendo com que os fãs percebam a semelhança com Michael Gambon (o Dumbledore original).
Ao longo da trama, alguns pontos vão incomodando, como o excesso de estranheza de Newt Scamander. Fica a dúvida se é Eddie Redmayne que força a barra neste sentido ou se o próprio roteiro resolveu exagerar neste artifício. Além disso, o ritmo do filme incomoda um pouco. Temos um início bem ativo e animador, mas seguido de um meio monótono e sem graça. Passa-se muito tempo sem que nada efetivamente aconteça.
Quando o roteiro resolve voltar com a ação, no entanto, volta de uma vez só, deixando o espectador sem fôlego. Temos uma finalização de história muito boa, com vários fios que vão se conectando e tantos outros que surgem para dar margem aos próximos filmes (serão cinco, ao todo). O medo que fica é se todas essas promessas que vem sendo feitas desde o primeira longa serão efetivamente cumpridas até o final.
Se seguir a franquia original, sim, essas deixas serão aproveitadas e explicadas. Mas Animais Fantásticos tenta ter uma vida independente, embora sempre faça referência aos filmes originais. Este longa, por exemplo, faz um ótimo serviço aos fãs ao mostrar lugares e personagens que aquecem nossos corações. Não só esses momentos servem como respiro para a trama, que tem um tom muito mais obscuro, como ajudam a conectar os arcos narrativos.
Trazendo para o lado do antagonista, o vilão Grindelwald, interpretado por Johnny Depp, tem bem pouca importância no contexto total. Ele insere medo na trama, mas ainda assim é apático e pouco consistente. Nada comparado ao nosso querido Voldemort. A situação se aprofunda mais quando ele é conectado com a história de Dumbledore, e aí sim, o interesse do espectador surge por ele.
Os demais personagens dão força à trama, como é o caso de Jacob Kowalski e toda a sua naturalidade de trouxa e Leta Lestrange, vivida por Zoë Kravitz. Ela acrescenta bastante à história e funciona muito bem como elo entre o enredo deste filme e parte do enredo da franquia original. Os fãs rapidamente reconhecem esse sobrenome e já começam a fazer conexões e especulações.
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é um bom filme que deixa os fãs empolgadíssimos e o espectador desavisado satisfeito. Existem problemas que espero que seja revistos nos próximos longas, como o excesso de personagens, o pouco foco naqueles que realmente interessam e o ritmo desequilibrado. Ainda assim, é bem melhor que o primeiro longa e dá espaço suficiente que justifique mais três filmes nesta franquia. Cresce a cada cena a curiosidade por este passado.
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