Abigail (2024)
Melissa Barrera em cena de 'Abigail' (2024)

Crítica: Abigail

Crítica: Abigail
3.7

O novo filme da Radio Silence deu o que falar desde seu anúncio. Inicialmente, Abigail surgiu como um projeto misterioso, em parceria com a Universal Pictures, num processo de remontar os ‘monstros clássicos’ (lobisomem, múmia, vampiro etc) do estúdio centenário. A divulgação desse longa-metragem causou um rebuliço no universo do horror por conta dos possíveis choques de agenda da produtora e suas mentes criativas que, na época, ainda faziam parte do projeto do próximo filme da franquia Pânico.

Esses mesmos problemas de agenda fizeram com que a produtora de terror e, consequentemente, os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (Pânico, de 2022, e Pânico VI, de 2023) abandonassem o sétimo longa do Ghostface. Em contrapartida, a reimaginação de um dos monstros mais clássicos da história do cinema (e, por tabela, do horror) foi anunciada: Abigail seria um filme sobre uma criança vampira (e bailarina).

Um grupo de criminosos desconhecidos (Melissa Barrera, Dan Stevens, Kathryn Newton, William Catlett, Kevin Durand e Angus Cloud) é contratado para raptar a filha de um magnata em troca de um resgate no valor de 50 milhões de dólares. Apesar do sequestro dar certo, logo o grupo percebe que não estão fazendo refém uma criança como outra qualquer. Durante a madrugada, eles começam a perceber que existe algo de errado com a operação. Quando Abigail (Alisha Weir) se solta das algemas, ela começa seu jogo de gato e rato com suas presas.

O longa é um retorno às características criativas da Radio Silence. A narrativa, escrita por Stephen Shields e Guy Busick (velho colaborador dos diretores), retoma o humor ácido e escrachado que a produtora precisou conter durante os filmes de Pânico que produziu. Abigail se aproxima mais de Casamento Sangrento (2019) do que dos dois slashers, justamente por ter como cerne da produção a mesclagem do horror com o humor.

Esse tom domina o longa do início ao fim e leva o espectador para lugares inusitados. O absurdo nunca é demais quando o assunto é uma vampira bailarina caçando seu jantar. Sabendo disso, Matt e Tyler aproveitam ao máximo as possibilidades cênicas e de efeito que podem criar à frente de Abigail.

É essa mesma atmosfera de comicidade e tensão que amarra os 109 minutos de filme. É preciso ter em mente, contudo, que essa jornada não é para todos. Há quem vá achar Abigail um grande besteirol ou, até mesmo, há quem possa querer eliminar a possibilidade de classificação do filme como um longa de horror – ainda que exista o subgênero terrir (terror + riso) que englobe esse tipo de histórias.

Abigail (2024)
Alisha Weir e Kathryn Newton em cena de ‘Abigail’ (2024)

Para aqueles, no entanto, que gostam de uma montanha-russa de emoções, como a de Um Lobisomem Americano em Londres (1981)Todo Mundo Quase Morto (2004), Freaky – No Corpo de um Assassino (2020) ou Renfield (2023)Abigail é a escolha ideal para o final de semana. O projeto te deixa roendo as unhas e, logo em seguida, te faz gargalhar alto no meio da sessão. Independente do tipo de público que você se encaixe, o filme dividirá opiniões por sua abordagem não tão convencional.

Para além dessas questões de estrutura narrativa, a direção da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett acerta ao orquestrar, de forma equilibrada, momentos cômicos, tensos e gore. Eles se mostram, mais uma vez, fãs do gênero o qual trabalham, recheando sua nova obra com referências e homenagens aos filmes que inspiraram Abigail. Tudo isso sem perder de vista a essência de seus trabalhos e, por consequência, de sua produtora. Identidade é uma palavra que define o que projeto é para a carreira dos diretores.

Outro elemento fundamental para o funcionamento dessa ode aos filmes de vampiro é o elenco. O casting não poderia ter sido melhor escolhido. Tanto o núcleo dos sequestradores, com Melissa Barrera (In the Heights, de 2021), Dan Stevens (Godzilla e Kong: O Novo Império, de 2024), Kathryn Newton (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, de 2023), William Catlett (Raio Negro, de 2018-2021), Kevin Durand (Locke & Key, de 2021-2022) e Angus Cloud (Euphoria, de 2019-2022), como a atriz-mirim, Alisha Weir (Matilda: O Musical, de 2022), dominam Abigail, cada um em seu tempo.

É preciso, contudo, destacar o trabalho de Melissa, Kathryn, Kevin e Alisha. Os quatro simplesmente roubam a atenção em seus respectivos papéis. Seja pelo timing do humor, pela força do drama ou pela tensão palpável do terror, são seus personagens que abraçam o espectador logo de início. Inclusive, em alguns momentos de Abigail, os quatro se separam em duas duplas para entregar algumas das melhores cenas do projeto.

Seja no embate entre a sofrida Joey, de Melissa Barrera, e a perversa Abigail, de Alisha Weir, ou até mesmo nas desventuras e desacertos de Sammy e Peter (respectivamente, Kathryn Newton e Kevin Durand), Abigail hipnotiza o público durante a duração. E, ainda que seja veterana no cinema, é louvável o desempenho maduro e potente da atriz irlandesa de 9 anos ao dar vida à vampira bailarina.

O que fica é essa mistura de possibilidades que é tão a cara da Radio Silence. Assim como fez em Casamento Sangrento, a produtora brinca com os tropos, as características e até mesmo os limites do gênero ao produzir uma história como essa. Ainda que os Pânicos e o longa de 2019 sejam mais fechados em si, Abigail não deixa a desejar e sabe exatamente onde quer chegar. Por essa razão, apesar dos alívios cômicos serem constantes, quando é hora de investir no terror e no gore, o roteiro, a direção e o departamento de arte não medem esforços para criar cenas cada vez mais bizarras e sangrentas.

Direção: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett

Elenco: Melissa Barrera, Dan Stevens, Alisha Weir, Kathryn Newton, William Catlett, Kevin Durand, Angus Cloud, Giancarlo Esposito e Matthew Goode

Assista ao trailer!