O universo da ficção científica já passou por diversas mudanças de estrutura e facetas ao longo dos anos. Os marcos do cinema nesse gênero quebraram paradigmas e o reinventaram. Filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), a franquia Star Wars, Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) e Matrix, a trilogia das irmãs Wachowski, mudaram a forma de fazer cinema sci-fi e transformaram o gênero em algo muito maior. O poder camaleônico que os longas ganharam com as novas possibilidades trazidas por essas películas foi fundamental para que ele durasse até os dias de hoje.
Com erros e acertos, o gênero teve destaque no último ano e já começa a despontar novos horizontes com as estreias de 2019. Nesta quinta-feira (28), os cinemas brasileiros começam a exibir o longa-metragem da Amblin Partners intitulado A Rebelião. A narrativa é resultado de um olhar extremamente político inserido na realidade social vigente por uma dominação alienígena na Terra.
Num futuro não muito distante, a Terra sofre uma invasão alienígena que leva o planeta a se tornar subjugado pelos extraterrestres. Numa manobra de sobrevivência, as lideranças humanas se unem aos invasores para estabelecer um governo de subserviência. Alguns grupos em Chicago, no entanto, não concordam com o posicionamento dos líderes e resistem. A última resistência passa os 10 anos após a invasão se reestruturando e elaborando um plano para que a rebelião possa pôr fim ao controle alienígena.
Captive State (título original) se inicia com uma promessa positiva ao público. O prólogo pré-apocalíptico entusiasma até mesmo os mais céticos quanto a qualidade do filme. Os primeiros 10 minutos introdutórios são uma demonstração do que parecia ser uma jornada sci-fi interessante. Os minutos seguintes, contudo, mudam completamente o ritmo e a forma da narrativa e, consequentemente, o olhar do espectador. Logo se instaura uma espécie de thriller político em meio a uma sociedade pós-apocalíptica. Desse momento em diante o longa se mostra com um viés muito mais político do que o esperado.
As discussões políticas inseridas no roteiro de A Rebelião são o seu verdadeiro pilar. As características e referências da ficção científica se tornam extremamente secundárias em relação ao foco de discussão proposto pelos co-roteiristas Erica Beeney e Rupert Wyatt (também diretor da produção). É tão marcante essa mudança de tonalidade da narrativa que o público pode se perguntar em algum momento se aquilo é, de fato, um mundo dominado por aliens. Nesse ponto o roteiro de Beeney e Wyatt falha. A inserção de reflexões político socioculturais poderia ter sido feita sem afetar a estrutura base da película. O ataque alienígena perde completamente lugar durante boa parte da história sendo resgatado apenas no final do longa.
Outra particularidade é o foco nas personas. Existe uma explícita tentativa da direção e roteiro de aproximar o espectador das personagens principais. Suas vidas são dissecadas aos poucos para que o público se apegue a cada uma daquelas figuras e suas trágicas vivências. No entanto, o fluxo de empatia entre o filme e os espectadores é um tanto falho pela rapidez com que os novos acontecimentos ocorrem – além da má explanação de alguns personagens-chave. A dinâmica das ações dos rebeldes em cada um de seus micros contextos se atropela em meio ao ritmo acelerado exigido pela história. Ou seja, Wyatt se esforça para prender o público de todas as formas que encontra, mas as falhas na estrutura de seu filme sempre atrapalham a experiência.
Captive State pode ser comparado em certos aspectos ao resultado de uma mistura de Matrix – e a aproximação das personagens com o real – com Distrito 9, de 2009, e toda a sua realidade de coexistência e exploração entre humanos e alienígenas – por mais que, na produção da Amblin, os papeis estejam invertidos. Tudo isso misturado a um forte posicionamento político sobre caos, poder e controle de massas gera o enredo do novo produto distribuído pela Focus Features. A jornada tem tropeços, uma tentativa de virada ao final da película que se mostrou extremamente óbvia e deixa a desejar no quesito sci-fi. É inevitável que o espectador saia da sessão querendo ter visto mais das criaturas extraterrestres. O que falta, portanto, em A Rebelião é uma escolha mais focada. A produção promete algo que não consegue cumprir por tentar abraçar mais do que era possível naquele contexto. O longa está longe de ser ruim, mas também não causará nenhum tipo de êxtase no público. Ainda falta um tanto para que o filme seja o sci-fi político de qualidade que prometeu ser.
Direção: Rupert Wyatt
Elenco: Ashton Sanders, John Goodman, Vera Farmiga
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