Chegando com um certo atraso nos cinemas brasileiros (o filme foi lançado internacionalmente em 2021), A Matriarca é sustentado por uma dinâmica replicada em muitos filmes: diferenças de idade e de temperamentos entre personagens que gradualmente transformam esta relação em uma jornada de aprendizado a partir da tolerância. Assim é que o adolescente Sam (George Ferrier) aprende algumas importantes lições com sua avó Ruth, a veterana Charlotte Rampling, durante uma temporada em que, forçadamente, ele tem que conviver com a matriarca da sua família em uma casa de campo.
Há alguns “esqueletos” nos armários dessa família. Tanto Sam quanto o seu pai, vivido por Marton Csokas, nutrem alguns ressentimentos por Ruth sempre ter sido tão dura e ríspida e por ela ter escondido a identidade do avô do rapaz. Sam também não está passando por um momento muito positivo da sua vida. Ele ainda está superando o luto pela morte da mãe e não consegue mais se conectar com a vida. A convivência com Ruth, que lhe passa algumas importantes lições a partir da sua experiência, sobretudo como correspondente de guerra, faz o rapaz se reerguer e estabelecer um importante laço com a avó.
A Matriarca é a perfeita definição de “filme conforto” com uma narrativa bem familiar ao espectador em suas diversas frentes: seus arquétipos (a senhora ranzinza e cínica, o rapaz inexperiente e melancólico), a estrutura do seu roteiro e as lições aprendidas dentro e fora da tela com o desfecho da sua história. O diretor Matthew J. Saville opta pela aprazível história que mistura drama e humor com personagens e situações familiares que geram identificação nas plateias, ainda que públicos mais exigentes possam achar o longa enfadonho em suas repletas de sensações de déjà vu.
O elenco garante parte da simpatia do público pelo projeto, uma produção neozelandesa. A veterana Charlotte Rampling imprime presença como a grande matriarca do título, trazendo a sua experiência à serviço de uma personagem que faz os demais elementos da história gravitarem no seu entorno. O jovem George Ferrier está bem na pele do seu neto, ainda que seja difícil aderir ao seu drama quando ele é um jovem com tantos privilégios e com a estampa de “garoto popular” do colegial, loiro, heterossexual e bonito.
A Matriarca não se atreve a muitos riscos. É um filme que apoia-se em abordagens e temas universais já vistos nas telas em outras obras com aquele approach de filme leve e agridoce, sendo sustentado pelo apelo de uma estrela veterana do porte de Charlotte Rampling. O drama é um filme correto sobre amadurecimento, conciliações e tolerância que não tem grandes ambições, mas que entrega ao espectador uma experiência satisfatória durante boa parte da sua projeção.
Direção: Matthew Saville
Elenco: Charlotte Rampling, George Ferrier, Marton Csokas