O que dizer ao começar uma crítica sobre algo que extrapola todos os níveis de sensatez universais? Aqui, eu não falo apenas sobre qualidade cinematográfica, mas também sobre noções básicas de humanidade. Não há o que se salve em A Maldição do Espelho, isso pode ser dito com tranquilidade. Com estreia para esta quinta, 12 de março, a ideia é conseguir salvar a ida ao cinema de quem possa ler este texto aqui. Esta introdução, antes de entrar no longa propriamente dito, vem como um alerta sensível de: não gaste seu dinheiro, tempo ou olhos com esta produção. Mas, bom, vamos lá!
Dirigido por Aleksandr Domogarov (Morra!), a projeção mostra um grupo de adolescentes que estuda em um colégio interno. A obra russa revela como estes jovens acabam sendo amaldiçoados, após uma brincadeira em um porão escuro, evocando uma das lendas urbanas do país, a Rainha de Espadas. Em termos de direção, tudo parece bastante preguiçoso. É como se o espectador pudesse ver em sua cabeça plano após plano, sequência atrás de sequência. A câmera meio que acompanha o que está acontecendo na história e é isso.
Contudo, o que mais chama a atenção no quesito de falta de qualidade, é o roteiro. Além de ser previsível, ele reúne quase todos os clichês e arquétipos que o terror e o cinema como um todo já viu. Alguns deles são até ofensivos. Destaque para a relação entre Alisa (Anastasia Talyzina) e Sonya (Alyona Shvidenkova) que é extremamente tóxica e fora do tempo contemporâneo. Alisa parece ter saído de um trash adolescente de 1999. Ela é a rainha entre os amigos, tem crush no professor mais velho, diminui os colegas e é gordofóbica. Esta última característica perpassa a exibição inteira, mas na “amizade” da dupla esta característica é mais forte.
Sonya esboça traços de alguma possível camada que o texto poderia trazer, seja com a externalização de suas raivas ou como enfrenta o perigo em um dado momento. Mas, no geral, há mais tempo de tela dela sendo uma garota mais tímida, recolhida e infeliz com seus hábitos alimentares. Algo que nunca deveria ter existido nas narrativas e na vida, muito menos em 2020. O restante das personagens não traz coisa melhor. A protagonista, Olya (Angelina Strechina) é a adolescente revoltada e não passa disso. Além de fazer cara de emburrada e gritar pelo irmão, ela não move o enredo como um papel principal deveria fazer. Um dos meninos é um valentão e o outro é o reprimido, que desenha o que sente e fica com medo dos populares.
Os professores da escola são pistas falsas ali e, infelizmente, são apenas o que aparentam ser . Porém, o filme tenta o tempo inteiro forçar a barra para trazer alguma fagulha de tensão para a narrativa, mas a falha é que arcos não são desenvolvidos, deixando o clima de mistério se desperdiçar. Porque A Maldição do Espelho é justamente esse erro em não saber, ainda que em cima dos clichês, criar a atmosfera do medo. Os jump scares são aguardados, a música é repetitiva e as expressões dos atores são repentinas demais, sem demonstrar uma construção e estabelecimento de clima de pânico entre eles. Não há progressão, os elementos são instalados abruptamente.
Este elemento pode ser atribuído também por uma aparente montagem desleixada. O público pode se questionar em diversos momentos de onde surgiu alguém ou algo de uma maneira não positiva, faltam pedaços para a fruição ser completa. Um exemplo é quando Olya está tentando fugir e vê seu irmão no lago se afogando. Como o garoto foi parar naquele rio que a menina precisou pegar um caminhão e ir escondida no fundo dele para conseguir chegar ali? Entre outras perguntas que podem surgir sobre esta situação. Ou, sobre o longa inteiro!
Muito poderia ser dito ainda sobre a produção, como a direção de arte bagunçada, a figura e a trajetória da vilã desperdiçadas ou o fato das distribuidoras trazerem projeções russas dubladas em inglês, sem nenhum motivo aparente. Mas, a mensagem mais importante foi transmitida, a de passar longe das salas cinema, dos streamings ou de qualquer local que esteja exibindo este terror!!!!!
Direção: Aleksandr Domogarov
Elenco: Angelina Strechina, Daniil Izotov, Anastasia Talyzina
Assista ao trailer!