A Luz do Demônio (2022)
Jacqueline Byers e Posy Taylor em cena de "A Luz do Demônio" (2022)

Crítica: A Luz do Demônio

Crítica: A Luz do Demônio
2.1

Curiosidades sobre questões do terreno e do sobrenatural sempre permearam histórias de horror. Da pintura para a literatura até chegar aos cinemas, noções sobre o submundo descrito pela fé cristã é um dos tópicos mais repetidos em produções do gênero. A fim de surfar na onda do halloween, a Paris Filmes traz aos cinemas brasileiros mais um longa-metragem sobre exorcismo. Nesta quinta-feira (3), A Luz do Demônio estreia com uma temática já trabalhada à exaustão por filmes de terror.

Por ser um tema repetido e pouco inovador, as expectativas acabam sendo baixas e a cobrança, alta. Para combater isso, o marketing de A Luz do Demônio vendeu o projeto como uma produção que traria algo de novo ao campo narrativo. A promessa, no entanto, não foi cumprida. Nem sequer os sustos são bem trabalhados. O espectador recebe apenas mais um filme sobre exorcismo. Para piorar, o longa não inova em nada e ainda vem carregado de falhas nas estruturas básicas de sua construção.

Irmã Ann (Jacqueline Byers), ao perder sua mãe ainda criança, sentiu a necessidade de ajudar o próximo. Ao entrar para a Igreja com esse objetivo, ela passa a cuidar dos enfermos num hospital de uma escola de exorcismo. Com a chegada de Natalie (Posy Taylor), uma criança possuída, Irmã Ann percebe que sua ligação com a Igreja vai muito além da sua fé. A freira terá que desafiar as normas da instituição para aprender os ritos do exorcismo, na esperança de que ainda dê tempo de salvar a alma da menina.

A Luz do Demônio (2022)
Jacqueline Byers em cena de “A Luz do Demônio” (2022)

A obra máxima que discute os temores da possessão e do exorcismo já foi entregue ao público há quase 50 anos. Desde a estreia de O Exorcista (1973), os demais filmes sobre o assunto precisaram de um esforço maior para se destacar. Assim como outras obras, A Luz do Demônio já carrega esse peso consigo e isso é sentido no resultado. Existem escolhas equivocadas tanto no roteiro quanto na direção que apenas intensificam os problemas – para além da repetição de uma fórmula que já não surpreende há muito tempo.

A sensação que chega para o público é de que a produção não tem força. Mesmo com um elenco interessante e pequeno – o que, teoricamente, facilitaria o trabalho com cada atriz/ator -, as precariedades do roteiro não permitem que eles sejam capazes de ir além. A Luz do Demônio sofre pelo peso do passado e pelas escolhas do presente. O bombardeamento de comerciais sobre o projeto na expectativa de valorizá-lo causa um efeito reverso assim que o espectador sai da sala de cinema. E a frustração só piora com a cena final do filme.

A falta de tato é um dos principais problemas no roteiro de Robert Zappia (Halloween H20: Vinte Anos Depois, de 1998). Além de assinar o texto, Zappia também foi um dos criadores da história original que deu origem a A Luz do Demônio. Ainda que devesse ter propriedade sobre a ideia, ele não soube a hora de parar. O roteiro tem excessos onde não deve e falta profundidade em seus personagens. Afinal, o que é uma história sobre possessão se não uma narrativa sobre o drama e a dor de pessoas? Essa profundidade dramática não é vista em nenhum momento. Tudo se mantém na superfície do início ao fim.

Mesmo que Zappia não quisesse investir na reinvenção do subgênero – tarefa essa que ninguém está cobrando -, ele precisava ter desenvolvido melhor o pano de fundo da sua narrativa. Essa fraqueza do roteiro afeta o filme como um todo. Nem mesmo o passado da protagonista foi bem trabalhado, ainda que ele fosse vital para a grande reviravolta do projeto. A Luz do Demônio falha em diversos momentos com o que o projeto promete entregar.

Por fim, e não menos importante, as escolhas da direção também causam estranhamento no público. Daniel Stamm (O Último Exorcismo, de 2010) utiliza a linguagem cinematográfica de um jeito sem sentido em diversos momentos. Essas escolhas causam estranhamento quando se pensa nas funções e na forma como elas foram aplicadas. O uso de câmera subjetiva é um dos principais causadores desse incômodo. O diretor utiliza esse recurso no primeiro ato inteiro, mesmo quando ele não tem sentido nas cenas. Além disso, não há nada no trabalho de Stamm que propulsiona A Luz do Demônio. E essa falta de identidade é o maior inimigo da produção.

Direção: Daniel Stamm

Elenco: Jacqueline Byers, Posy Taylor, Colin Salmon, Christian Navarro, Lisa Palfrey, Nicholas Ralph, Ben Cross e Virginia Madsen

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