A Fita Cassete

Crítica: A Fita Cassete (Netflix)

2.5

A Netflix tem o vício de querer entregar nostalgia para seus consumidores, quase de forma desesperadas. Stranger Things (2016-) e Rua do Medo: Parte I: 1994 são só apenas exemplos dentro desta gama de obras recorrentes que estão por ali nos anos 1980 e 1990, período no qual os adultos da atualidade eram crianças e adolescente. Este fato não é exatamente algo ruim, mas que traz uma leva enorme de obras ambientadas entre os anos 1980/1990 e até mesmo início dos anos 2000.

É nesta concepção de atmosfera que A Fita Cassete está inserido. Apesar de se passar em 1999, na época quando o medo do Bug do milênio cercava parte da população (inclusive esta que vos escreve, que estava com 8 anos de idade), traços oitentistas estão presentes no enredo pelo fato dos pais da protagonista, a orfã Beverly Moody (Gemma Brooke Allen), terem sido adolescentes no fim dos anos 1980. Neste contexto, é a partir da memória do pai e da mãe falecidos e da vontade de Beverly de se aproximar do passado deles que a história se desenvolve.

Até a metade da projeção, é possível perceber um cuidado do roteiro de Stacey Menear (Boneco do Mal) em apresentar as personagens principais e em conduzir a premissa de uma maneira que o espectador vai pode vir a criar uma proximidade e empatia com a narrativa. O objetivo de Beverly é até simples: escutar uma fita cassete que seus pais gravaram no passado, para ver se encontra alguma mensagem deixada por eles.

Ao mesmo tempo, este também é um filme que fala da relação de Beverly com a pré-adolescência, com sua avó e suas novas amigas do colégio. Em um olhar geral, este é um longa-metragem que diverte e conta com personagens carismáticas. No entanto, existe aqui uma ausência de força no próprio plot, que se desgasta em pouco tempo de projeção, fazendo com que o rumo do plot vá se perdendo.

A Fita Cassete

Quando escutar as músicas gravadas pelos pais passa a ser um problema na vida de Beverly, a escolha do roteiro é trazer soluções fáceis para o desenlace do problema. Assim, os conflitos emocionais e relacionais dela não são trabalhados ao ponto de ganharem camadas ou alguma profundidade. Esta investigação de sentimentos e de passado familiar de Beverly talvez não seja a intenção da obra, mas a sensação durante a exibição é a de que Menear não tinha tanta certeza de quem seriam esses pais da garota.

Até mesmo o relacionamento de Gail (Julie Bowen), avó de Beverly, com a filha fica incerto na maior parte do tempo. Sendo este um longa-metragem totalmente voltado para tratar de questões familiares e de momentos de descoberta da identidade na pré-adolescência, falta uma conexão mais forte no estabelecimento destas ligações. O que acontece em A Fita Cassete é a inserção de personagens, que parecem ter um grande significado na elaboração da trama, porém que vão perdendo espaço ali dentro e esvaziando suas funções narrativas.

Um exemplo pontual disto é a figura de Anti (Nick Thune), dono de uma loja de discos, que ajuda Beverly a encontrar as músicas listadas na fita que a menina encontra. Apesar de Anti aparentar ter um objetivo na trajetória de Beverly, ele vai se apagando ao decorrer do longa. O mesmo pode ser dito das melhores amigas de Beverly: Ellen (Audrey Hsieh) e Nicky (Olga Petsa). Desta maneira, o que faz a sessão valer a pena é o teor do entretenimento suave e o elenco afinado.

Cada membro do casting consegue jogar bem e explorar textual e fisicamente os espaços cênicos. Se a ligação entre todes vai se esvaziando durante as passagens de cada ato, em termos de atuação a organicidade e a cumplicidade das personagens permanecem intactas até o desfecho da narrativa. Além disso, no encerramento, a produção consegue retornar para o cerne principal do filme, que é a ligação de Beverly com seus pais, através de uma gravação em fita que eles fizeram, amarrando, de alguma maneira, o que havia sido colocado na proposta inicial.

Direção: Valerie Weiss

Elenco: Gemma Brooke Allen, Julie Bowen, Nick Thune

Assista ao trailer!