Há sempre certo burburinho quando uma nova obra dirigida e/ou escrita por Ryan Murphy (The Normal Heart) é anunciada. Isto se torna mais intenso quando figuras renomadas do cinema, como Meryl Streep (Adoráveis Mulheres) e Nicole Kidman (O Escândalo), estão envolvidas no projeto. Assim, as expectativas para A Festa de Formatura estavam altas. Talvez, por isso, o espectador desavisado tenha uma experiência mais significativa e prazerosa, por esperar menos, a recepção pode acontecer de maneira mais tranquila. Mas, no geral, é possível dizer que o que acontece aqui é a realização de uma produção mediana, sem viço e irregular.
As principais razões para este resultado estão no roteiro e na direção. Baseado na peça homônima da Broadway, esta adaptação peca por suas idas e vindas no seguimento do plot e por colocar uma protagonista que, diferentemente do esperado, não move as ações, deixando-se levar pelas decisões dos outros, na maior parte da projeção. Emma (Jo Ellen Pellman) é uma adolescente que deseja levar sua namorada para a festa de formatura, mas o conselho de pais é homofóbico e faz de tudo para que a jovem não consiga o que quer. Ao mesmo tempo, um quarteto de atores decadentes vê esta informação no Twitter e decide interferir no caso, para conseguir visibilidade para as suas carreiras desafortunadas.
É nisso que o filme mais se complica! Entre tentar desenvolver o romance de Emma e seus percalços para alcançar seu sonho e dos quatro artistas, os roteiristas Bob Martin (Som e Fúria: O Filme) e Chad Beguelin (Elf: Buddy’s Musical Christmas) se enrolam e não acertam na mão ao contar uma história que apresente uma unidade ou fluxo da trama de maneira equilibrada. Talvez, o mais próximo que cheguem em iniciar e fechar o ciclo narrativo seja com Dee Dee (Streep). A dupla foi ambiciosa demais ao inserir tantas premissas que não consegue dar conta de suas próprias criações, deixando soluções fáceis e ingênuas para os últimos minutos de projeção, como a repentina mudança de ideia de Mrs. Greene (Kerry Washington) ou a rodada de conclusões de arcos, na qual, praticamente, todos do elenco anunciam que venceram os seus problemas.
Outro fator que chama atenção no longa é a ausência de ritmo. Veja bem, existe uma ideia forte no imaginário das pessoas que velocidade é sinônimo de qualidade rítmica. Contudo, é o equilíbrio entre aceleração, lentidão, intensidade e alívio que imprime uma boa dinâmica neste quesito. A direção de Murphy é uma das maiores responsáveis por esta sensação. Os giros de câmera e uma quantidade incontável de zoom in e out podem cansar o público logo nos primeiros minutos de exibição. É como se ele quisesse, constantemente, chamar a atenção para algo. Mas, quando se utiliza um recurso tantas vezes fica difícil não deixar as ações diluídas. Poucos respiros visuais são inseridos, dificultando o engajamento com a própria história.
Neste frenesi, esta espécie de Romeu e Julieta lésbico contemporâneo, com toques de musical tradicional da Broadway, se perde por tentar ser muito e alcançar pouco. No entanto, apesar das falhas gerais, um dos destaques positivos é a atuação de Kerry Washington. Dentro de um contexto monocórdico, consegue evocar nuance em sua interpretação. Washington colore as palavras com tônicas distintas, está sempre trabalhando os seus gestos e olhares com destreza, pois circula entre o maior e o menor.
Os outros intérpretes não estão ruins, porém a maioria se entrega a forma – incluindo Meryl Streep. Numa impossibilidade de ir mais adiante dentro do que o próprio enredo traz, eles são mais tipos do que qualquer coisa. Nicole Kidman escapa um pouco desta dinâmica, mas, é preciso salientar como seu papel é subaproveitado. A atriz mostra todo seu potencial na sequência na qual canta “Zazz” e em todas as suas contracenas. Ela sabe jogar com seus colegas e reage na medida aos acontecimentos ao seu redor. Ou seja, Kidman está atenta as emoções de sua personagem e o que ocorre perto dela, mas não tira a atenção do que está sendo mostrado no ecrã.
No final das contas, A Festa de Formatura é ok. Se quem assiste tiver paciência para suportar as partes entediantes, alguns momentos irão valer a pena. Para as mulheres lésbicas e bissexuais há algum ganho, porque ninguém morre, é trocada por um homem ou possui qualquer final trágico do tipo – sim, é o mais comum no cinema, nas séries e nos livros. De acordo com o Salon.com, além dos desfechos tristes recorrentes, desde 1976, 67% das personagens femininas lésbicas ou bissexuais faleceram na ficção. Este avanço é um tanto pequeno, mas não deixa de ser importante. Além disso, instantes de fofura vos esperam! Rápidos, porém significativos.
Direção: Ryan Murphy
Elenco: Meryl Streep, Nicole Kidman, Jo Ellen Pellman, James Corden, Kerry Washington, Tracey Ullman, Keegan-Michael Key, Andrew Rannells, Ariana DeBose
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