Dirigido por Gore Verbinski, realizador versátil de blockbusters como Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, do terror O Chamado e da animação Rango, A Cura é um suspense psicológico feito em molduras que parecem já ter sido descartadas pelos grandes estúdios de uns anos para cá. A produção não economiza um tostão do seu orçamento para produzir um filme arrojado visualmente, primando por um trabalho irretocável da equipe de direção de arte coordenada por Eve Stewart (O Discurso do Rei e Os Miseráveis) em articulação com a fotografia criativa de Bojan Bazelli (que já havia trabalhado com o diretor em O Cavaleiro Solitário). É uma pena que a trama não acompanhe os esforços estéticos do filme e Verbinski se perca nesses atrativos visuais e sensoriais, esquecendo-se de que, no seu caso específico, cairia bem um roteiro mais polido e menos afeito a situações artificiais.
Em A Cura um jovem executivo vivido pelo ator Dane DeHaan (de O Espetacular Homem-Aranha 2 e Versos de um Crime) é enviado pela sua empresa a um centro de reabilitação para convencer o CEO da companhia a retornar para suas funções. Quando chega ao local, o personagem é surpreendido pela resistência do homem e por uma série de acontecimentos estranhos que o fazem ficar cada vez mais encurralado e preso naquele lugar.
Quando menciono que A Cura parece uma obra deslocada em seu tempo, me refiro ao fato de que atualmente parece impossível que um estúdio invista tanto assim nesse tipo de material, um suspense psicológico de proporções macro estética e tecnicamente, afinal o gênero parece cada vez mais vinculado a produções de baixo orçamento e independentes. Plasticamente, tudo em A Cura recebe tratamento de primeira, cada cômodo e parede da casa de saúde que sedia grande parte das cenas do filme recebem um cuidado meticuloso em suas cores e formas, além disso Bazelli prima pela composição de planos que de fato desafiam o espectador tamanha a sua inventividade e polimento. O filme nos faz lembrar o apuro estético de longas do gênero como O Iluminado, de Stanley Kubrick, ou Ilha do Medo, de Martin Scorsese, com o último não apenas por seu visual ou pela composição dos seus planos, mas também pelos caminhos trilhados pelo seu protagonista.
Acontece que, em diversas ocasiões, ao ostentar o seu apuro imagético, mesmo que capte a atenção do espectador, A Cura parece ser um longa governado pelo artificialismo das suas sequências. A trama do filme não têm fôlego para acompanhar o visual da obra, fazendo com que, muitas vezes, Verbinski construa uma atmosfera de tensão que não existe de fato e que não vai movimentar a história em nenhuma das suas frentes. Tudo parece pretexto para o realizador exercitar o seu prazer de mostrar as proezas plásticas da sua obra. O longa acaba ficando à serviço das suas excentricidades visuais, oferecendo muito menos do que deveria oferecer.
A Cura ainda poderia render uma reflexão interessante a respeito de um dos maiores males do século, a depressão e as sequelas de se conviver com as demandas sobre-humanas da cidade grande. No lugar disso, sufoca todas as potenciais temáticas privilegiando um desfecho burocrático e nada corajoso. Entre as associações evidentes com a eugenia praticada por médicos nazistas na primeira metade do século passado e os arroubos visuais da equipe de Verbinski, A Cura revela-se como uma obra morna, decepcionando por potencialmente representar um fiapo de esperança de que filmes com propostas como a sua possam ser mais frequentes entre as prioridades dos grandes estúdios. Cada obra como esta que fracassa artística ou financeiramente representa um recuo considerável na indústria fazendo com que similares tenham mais dificuldade de sair do papel. Uma pena.
Assista ao trailer do filme: