Numa produção China e Estados Unidos, o público encontra em A Caminho da Lua uma temática recorrente em animações do cinema: as múltiplas maneiras como alguém pode lidar com o luto e com perdas. O tema acaba por aparecer em diversas tramas do gênero, como Operação Big Hero ou Up – Altas Aventuras. Aqui, neste indicado ao Oscar 2021, há uma tentativa de trazer o assunto de maneira criativa e com lendas e mitos tipicamente chineses. No entanto, apesar de apresentar elementos ricos de uma cultura oriental, as escolhas da narrativa são bastante óbvias e até cansativas. Com um enredo que demora para se desenvolver, principalmente entre o momento que a mãe da protagonista morre até a hora que a menina decide iniciar a sua aventura, existe uma irregularidade rítmica no filme.
Algumas situações ganham mais destaques e se estendem bastante, outras são corridas e é preciso, inclusive, apressar o desfecho do conflito central. Este fator também ocorre devido ao fato de que muitos subplots são colocados na história. Alguns deles, nem conseguem ser explorados completamente – como acontece com Gobi, personagem introduzindo repentinamente, mas que afirma ter um passado relevante, porém a sessão termina sem que seu problema seja revelado de fato ou solucionado.
Para completar, a produção parece buscar, com um tanto de desespero, colocar elementos de sucesso em desenhos animados, como a figura de um animal de estimação fofo. O longa não apenas tem um, mas como quatro pets: um cachorro, um coelho, um sapo e o próprio Gobi. O segundo clichê recorrente é o da criança atrapalhada, porém carinhosa, que acaba por ajudar na trajetória da personagem principal. O irmão de Fei Fei se encaixa nestas características. Ainda que ele seja um alívio cômico eficaz, possuído sequências engraçadas, a presença dele não se justifica tanto. O garoto está mais ali para ser esta figura que representa mais esta tradição de sidekick do que para contribuir com a narrativa expressivamente.
Ainda assim, existem alguns pontos positivos dentro da obra. As músicas são bem costuradas e amarradas com o que está sendo contado. Elas ambientam o público, de uma maneira suave, sobre quais são os sentimentos e desejos das personagens, de uma forma menos expositiva que os seus diálogos falados. Há também o fato de que, ainda que com irregularidades de ritmo, o arco de Fei Fei é um tanto redondo. Quando ela sai do luto e se abre as novas possibilidades, após viver situações que mudam seu ponto de vista completamente, a sua jornada torna-se completa. Assim, as questões sobre A Caminho da Lua são muito mais sobre o como acontecem as ações e esta aparente sensação de que a vontade ali era emplacar um sucesso, por isso o esforço para jogar tudo na tela soa exagerado e desconexo.
Direção: Glen Keane, John Kahrs
Elenco: Ken Jeong, Sandra Oh, Kimiko Glenn
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