Desde os primeiros minutos de projeção é possível notar a importância das cores em Até Que Você Me Ame. Com os planos iniciais preenchidos de branco, as outras temperaturas vão se fazendo presentes lentamente, delineando os sentimentos e lembranças da protagonista e as emoções de seu antagonista. Por um longo tempo, tudo que o espectador vê são duas perspectivas. De um lado, a tensão de Ruby (Ingvild Deila) em descobrir porque foi capturada e mantida em cativeiro por um suposto desconhecido e de entender o que está acontecendo com ela e sua mente. Do outro, existe Tom (Stuart Mortimer), um homem que se mostra frio, calculista e no controle de tudo.
O maior ganho do longa está na progressão do estabelecimento da tensão, como as peças do quebra-cabeça vão sendo colocadas e como são desvendadas. Juntamente com a protagonista, o espectador compreende a força da relação das duas personagens principais e o medo da próxima ação nunca abandona o jogo entre eles. As pistas não são falsas e o pacto com o público é estabelecido e respeitado. O que ocorre é uma lenta descoberta ao lado de Ruby. Parte disto vem do trabalho entre Deila e Mortimer, que jogam com os olhares e os gestos de um para o outro.
A movimentação pelo espaço cria esta sensação de suspensão e é difícil prever o passo posterior de cada um. Seria um abraço ou um empurrão? Um beijo ou um ataque? Entre fluidez e e corte, têm as surpresas do que pode vir a aparecer em cada quadro. Contudo, o diretor e roteirista Edward A. Palmer se esforça para não romantizar o possível relacionamento doentio entre os dois, em Até Que Você Me Ame. Sempre é relembrado que Ruby não está se apaixonando por seu sequestrador, como a jovem é sagaz e procura o tempo inteiro tomar de volta o comando.
A produção demonstra grande potencial, principalmente à medida que o passado da dupla vai sendo revelado e pela coragem e efetividade de Palmer em fazer uma obra com tão poucos elementos e que consegue passar tudo o que ele parece desejar transmitir. No entanto, quando o enredo começa a se encaminhar para o final a sua qualidade vai caindo. O não dito, as suposições e dúvidas é que instalavam a atmosfera de apreensão. Além disso, as reais intenções do vilão não interessam muito. A dinâmica criada ali é muito maior do que qualquer coisa que possa ter acontecido no passado.
O caminho de contar explicitamente como eles, teoricamente, chegaram naquele ponto subestima o espectador. Tudo isto é quase jogado fora alguns instantes depois, confirmando mais fortemente que, de fato, todo o discurso do terceiro ato é desnecessário. Alguns elementos da atuação de Stuart Mortimer também chamam atenção negativamente. Ele parece ter uma vontade grande de representar um homem frio e é precisamente quando ele perde a organicidade que o papel precisa. A obviedade das tonalidades fortes que tomam toda a tela é uma característica forte no começo da exibição. Vermelho como sendo o perigo, por exemplo. Mas, estes significados vão sendo diluídos e ressignificados, equilibrando melhor as escolhas de Palmer para Até Que Você Me Ame.
Direção: Edward A. Plamer
Elenco: Ingvild Deila, Stuart Mortimer
Assista ao trailer!