Los Últimos

28º FAM: Los Últimos

4.5

Quantos anos faltam para o fim do mundo? Quem ainda senta ao lado de um amigo e passa horas elucubrando sobre o passado, o presente e o futuro? Os ecologistas Ulf e Jorge são estes senhores que parecem ser o que restou de humanidade, em um mundo apocalíptico e colapsado, em Los Últimos.

Com um requinte de ironia, a dupla dialoga sobre o mundo e sacodem a plateia com suas falas conscientes. Ainda que o espectador não concorde com os dois em algum momento, é possível compreender os discursos deles, como o universo da pesquisa lhes é caro e como Ulf e Jorge entendem sobre todas as contradições de seus trabalhos e do planeta também.

Neste sentido, o terceiro elemento, que seria o diretor e roteirista Sebastián Peña Escobar, passa um tanto despercebido. Apesar de estar na sessão constantemente, em sua voz off, há uma ausência de sua figura no ecrã. Esta falta pode ser traduzido pelo desejo de observar e dar voz aos seus companheiros de jornada.

Ao mesmo tempo, fica uma pequena sensação de que Sebastián não quis se expor tanto. Ainda assim, as suas entradas em off constroem sentido e fomentam a discussão sobre as proximidades e intimidades que os humanos têm com a Terra e todo o seu distanciamento.

Para realizar tal intento, há um jogo dicotômico de plano geral, com sufocamento e fechado, com expansão. Este é um filme que trata sobre contradições humanas e esse elemento está transfigurado em imagem. O seco do solo, como consequência das queimadas, recebe cortes secos, seguidos das personagens.

Então, cria-se uma onda de repetições visuais, que transmitem o que vivenciam as pessoas e o mundo, com escolhas sociais, políticas e econômicas, que parecem mais becos sem saídas. É bem verdade que a estrutura narrativa de reiterações é cansativa e isso se eleva quando a direção parece não saber como finalizar o seu documentário.

No entanto, se a plateia se apega ao cansaço da impossibilidade de escape do futuro da humanidade, o longa ganha força e se torna mais fluido. Assim, Los Últimos é uma combinação do carisma e sagacidade de Ulf e Jorge, juntamente com a decupagem de Peña e a montagem de Fernando Epstein.

Ainda, existe o tom de suspensão causado pelas estratégias da direção, que tornam tensas e intensas esta viagem às últimas florestas virgens do Paraguai. Mas, é para a sociedade ter medo mesmo, porque neste filme de terror que é o século XXI, quem não há de escapar em sua totalidade são as pessoas e não o planeta.

E é por causa desse transtorno interno em quem assiste e como o faz, que Los Últimos é uma obra potente, necessária e, em alguma medida, disruptiva. Ela não o seria em outros tempos, porém, nesta época de meias verdades, quem se encara e olha para a vida de frente já está quebrando o status quo.

Diretor: Sebastián Peña Escobar

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