Ninive Caldas

28º Cine PE: Entrevista com Ninive Caldas

As luzes do teatro do parque se acendem, Um dos festivais mais esperados de Pernambuco se inicia, expectativas são criadas mas apenas uma certeza habita o Imaginário do público do festival Cine PE: a presença da atriz e mestre de cerimônias Ninive Caldas. Conhecida por seus elaborados figurinos e bom humor em cima dos palcos, ela se tornou uma figura emblemática do Cine PE, com uma relação que se iniciou no lugar de espectadora artista celebra esta parceria que para ela é cada vez mais profícua. “A minha relação com o cine PE é desde sempre, porque, desde que eu me entendo por gente, é uma coisa muito importante para Pernambuco”, explica.

Já este lugar de mestre de cerimônias começou sem que Ninive planejasse, como um job, no Festival do Cine Teatro. No entanto, Caldas vivencia um sucesso nesta área, o que faz seu nome ser levado como sugestão para Sandra Bertini, uma das criadoras e realizadoras do Cine PE. Aceitando a sugestão, Sandra entrevista Ninive, a contrata para abrir as noites de exibições, e a continua chamando todo ano. Pensando neste relacionamento de Caldas não apenas com o festival, mas também com o audiovisual pernambucano e nacional, que o Coisa de Cinéfilo traz para seus leitores um bate-papo com ela. Confira!

ENTREVISTA

Enoe Lopes Pontes –  Quando e como começou a sua participação/relação com o Cine Pe?

Ninive Caldas –  A minha relação com o cine PE é desde sempre, porque, desde que eu me entendo por gente, é uma coisa muito importante para Pernambuco. As pessoas passavam anos esperando os filmes serem lançados no cinema e os grandes artistas vinham se apresentar seus filmes. Eram multidões de pessoas no teatro Guararapes. Central do Brasil, eu vi aqui. Os primeiros filmes de Kleber que eu vi na vida  foram no Cine PE.  Eu vi Recife frio  aqui e vi o Teatro Guararapes lotado, morrendo de rir . Então, é sempre um evento no calendário da cidade e, por um tempo, eu não ia para o palco ainda, mas acompanhava esse evento  na cidade.

ELP – Ah, você começou como espectadora! E depois?

NC – Sim! Então, eu sempre admirei muito Graça Araújo, que era uma mulher negra, super empoderada, poderosa, com a voz potente demais, estava na TV e estava à frente do Cine PE, durante 22 anos, mais ou menos. Ao longo do tempo, eu fui me formando enquanto atriz, fui tendo oportunidade de me apresentar no palco além do teatro. Com o falecimento de graça, Sandra começou a pesquisar alguém para colocar no lugar dela, mas foi uma coisa muito difícil porque Sandra era muito amiga de Graça, ela amava Graça Araújo. Bom, mas aí, como diz aquela coisa foi pela boca de um só, todo mundo (risos) me indicou a ela. Todas as pessoas disseram: eu acho que a pessoa ideal para fazer isso é Ninive! Então, quando ela me convidou para uma reunião no escritório dela e a gente conversou não teve outra! E aí foi assim, muito mágico para mim porque, como eu disse,  eu vim acompanhando de uma vida toda ponto o Cine PE. O festival já tem quase 30 anos. Então, desde muito nova que eu vim acompanhando ele, por isso, para mim, foi muito potente.

ELP – ⁠Como você linka a trajetória de sua carreira para a sua participação como mestre de cerimônias e anfritriã do festival? 

NC – Menina, pois é, a minha carreira de atriz sempre foi assim. Eu sempre fui muito comunicativa! Se eu trabalhasse numa repartição, eu ficaria fazendo performances para as pessoas na repartição (risos).  Eu gosto de falar. Aí, comecei a fazer cinema e eu tenho um grande amigo que é diretor, que também era produtor cultural, que me disse: olha, Ninive,  é você que vai apresentar a abertura do Festival do Cine Teatro, no Teatro Santa Isabel. Foi a minha estreia! Arrumei meu figurino, porque, como você sabe, eu gosto muito de figurinos, meus figurinos sempre me acompanham!  Aí, apresentei esse primeiro evento. A partir daí não parei mais!  Então, foi assim, bem espontânea minha relação com a vida de mestre de cerimônias. Não esquecendo a minha vida de atriz, porque às vezes eu faço tantas coisas de mestre de cerimônias que minha vida de atriz tem ficado um pouco parada pela quantidade de coisas mesmo que eu faço.

ELP – Como você enxerga o cenário do cinema pernambucano e nacional?

NC –  Eu sou fascinada por cinema, trabalho como atriz. Então, eu gosto muito de cinema e as minhas referências maiores são os filmes pernambucanos, são os diretores pernambucano,s são de filmes que foram feitos aqui. Claro que eu tenho várias outras referências mundiais, mas eu falo da minha referência nacional. Me  lembro da gente falando de Aitaré da praia, que foi um dos primeiros filmes gravados em Pernambuco, no início do século passado. Tem um filme, O Baile Perfumado, que foi, junto  com o movimento Mangue Beach,  um marco cultural. É um filme importantíssimo  para Pernambuco. Ou, um filme como Açougue, de Tiago Melo, que é o filme lindíssimo, falando da Zona da Mata Norte. E acredito que estamos no caminho certo, o fundo de Cultura está voltando, para que mais filmes voltem a ser feitos e as pessoas possam registrar o nosso tempo. Isso é importantíssimo! Porque é ótimo fazer filme do próprio bolso, claro as pessoas têm tantas ideas, que precisam criar coisas. Mas, é muito importante os novos ficarem atentos a comunhão do fazer e do estudo mesmo para que a gente tenha fomento digno, para que a gente possa ter um trabalho. Não podemos esquecer que são trabalhadores, que têm famílias, que têm uma vida e temos que ter uma vida digna.

ELP – ⁠Durante os seus anos de contribuição com o Cinepe, você já viveu alguma história inusitada, diferente e/ou que você destacaria?

NC –  Inusitado foi no passado, que até Caio Blat morreu de rir depois. Porque a gente tava na abertura, ou foi no segundo dia, foi um dia importante.  Aí, de repente, começa um tiriri, um falando alto, eu falando e a pessoa falando quase na mesma altura. Aí, eu parei e disse… Eu nem me lembro direito, Caio que conta, menina e a gente morre de rir, eu disse: “não é possível que a gente não consiga ficar longe do telefone 5 minutos, que a gente está num lugar que as pessoas não conseguem parar! Esse é o momento da gente fazer isso não tem como a gente está escutando o celular”. Algo assim, eu falei um monte de coisas! Aí, pronto, silenciou e eu retomei. Depois, eu fiquei sabendo que era a Globo entrevistando o homenageado do ano passado. Aí, eu pensei minha “gente!!” e dei muita risada. Mas,  eu fiz o que eu achava que tinha que fazer. Eu sou espontânea, você viu no Cine PE.  

ELP – Como é a sua relação tanto com o público especializado (críticos, artistas, jornalistas etc) e o mais geral? 

NC –  Minha relação com o público especializado é muito bacana, porque como eu sou do meio artístico, eu conheço muita gente e o grande público também acompanha, me vê nesse e em outros eventos. E o público do CINE PE é um público muito fiel! É um público que sempre vai, que todo  ano está lá. E, muitos deles, sempre dizem: oi, olha aqui você, eu estou aqui com você! E bate foto e tal! Os meninos que fazem assessoria são muito gente fina a galera de jornal também. Eu tô com eles o ano inteiro. Então, eu faço muitos eventos do governo, muitos eventos de lançamento e de coisas assim. Então, estou sempre junto com um jornalista.

ELP – ⁠Cada ano o Cinepe deve ter um sabor diferente, coisas que fazem as edições se diferenciarem. Como foi a experiência de participar este ano?

NC –  Esse ano foi muito legal, porque logo na abertura a gente teve o Grande Sertões, de Guel.  Nós pernambucanos temos uma relação muito especial com Guel Arraes, por causa das coisas que ele faz, para além de eu conhecer a família também. Ver toda a família dele, que estava aqui, a filha que estava presente, e ele é um grande cineasta, uma grande figura, foi especial. E também tivemos várias outras estreias de filmes nacionais importantes. Isso tem um sabor diferente. Então, eu acho que esse ano foi isso!