É curioso observar como Olivier Labonté LeMoyne consegue mesclar a comicidade e o terror de maneira equilibrada, no roteiro e na direção de seu curta-metragem Nu. Entre as tensões estabelecidas pela trama e os absurdos que as circundam, o filme chama atenção pela sua predisposição em arriscar. Mesmo que dentro de uma narrativa linear.
O risco está em não subestimar o público e criar lacunas para construir a atmosfera de medo. Para realizar tal intento, para além de estratégias comuns do terror – como névoa, sombras e figuras meio zumbi para convocar o susto -, é na vulnerabilidade do protagonista que se encontra o sucesso principal do curta.
Primeiramente, Will (Étienne Galloy) é o primeiro a notar que ele e sua namorada Cath (Roxane Tremblay-Marcotte) não estão sozinhos. A forma como o rapaz reage a situação é querer ir embora da floresta, na qual o casal parou o carro. Sem apresentar traços de masculinidade tóxica – que geralmente estão estampadas em personagens principais de produções do gênero -, Will é “gente como a gente”, tem medo e quer fugir.
Ao mesmo tempo, não há artificialidade em seu pânico e mesmo que a obra seja breve, o espectador consegue acompanhar Will digerindo o quão é estranho o que está ocorrendo ao redor dele. Assim, cria-se um paralelo na história. De um lado, existe o que há de extra-cotidiano, de sobrenatural, vindo do zumbis sem roupas, escondidos no mato. Já do outro lado, existem os seres humanos comuns.
Will e Cath não agem de maneira performática diante do perigo. Existe o medo e o susto, porém as reações são mais silenciosas do que verbalizadas. Por isso, o espectador pode se sentir mais imerso e próximo do enredo. Mas, mesmo contando com aspectos positivos, Nu também possui algumas falhas, que acabam interferindo no resultado geral.
O primeiro é a presença de Cath. O jeito como ela é apresentada e colocada no roteiro é de alguém que tem descontrole de suas ações e de seu destino. Inclusive, é simbólico que ela desapareça em algumas cenas, ficando invisível. Para suavizar esta impressão em relação a Cath, talvez, o curta pudesse escolher exatamente qual era a função dela para a história e desenvolver mais a sua participação.
Além disso, o final do filme é um tanto ingênuo. O que Olivier sabe fazer é estabelecer o clima de tensão até o clímax. Depois disso, a sessão desanda, aparentando um ausência de firmeza para desenvolver o desenlace da obra. Falta também conhecimento sobre a própria mitologia ali apresentada e Olivier Labonté LeMoyne decide caminhar para o óbvio, criando metáforas vazias ou rasas, como o fogo no carro, enquanto Cath e Will transam.
No final das contas, este é um trabalho que fica no flerte entre o ingênuo e o perspicaz. É uma boa ideia colocar um casal, que vai fazer sexo no meio do nada, dentro de um carro, sendo perseguido por um grupo de pessoas nuas. Ao mesmo tempo, esta é uma premissa um tanto boba e até infantil.
Se ao menos Olivier tivesse pensado em um desfecho menos previsível, o pendulo cairia mais para o instigante do que para o ingênuo. De todo modo, Nu vale a pena de ser conferido por conseguir prender a atenção de quem assiste e provocar até algumas risadas. A comicidade é um ganho do roteiro juntamente com a atuação de Étienne que revela um olhar tão incrédulo, que chega a ser cômico. E são por todas estas razões que o curta fica ali, na média, mas sem passar grandes vergonhas.
Direção: Olivier Labonté LeMoyne
Elenco: Étienne Galloy, Roxane Tremblay-Marcotte