Vermelho Monet

26º Festival Cine PE: Vermelho Monet

0.5

Como empregar força para uma história? Um dos elementos mais relevantes para o estabelecimento de ritmo ou de intensidade é a criação do equilíbrio. Seja na maneira como as velocidades são utilizadas ou na importância de empregar uma dinâmica que transite entre forte e suave, é necessário que uma produção saiba a hora de convocar seus momentos de intensidades e de respiros. Para que tal objetivo seja alcançado, é fundamental reconhecer o real sentido do que se deseja transmitir. Mais ainda, é vital que a equipe esteja completamente coesa e em função da narrativa. Porque é para ela e por ela que tudo deve ser planejado.

Infelizmente, este não é o caso de Vermelho Monet. Aqui, há uma explosão tão cósmica de exageros, que saber por onde começar a falar sobre ele é uma tarefa árdua. Dirigido  por Halder Gomes (Cine Holliúdy), o longa-metragem tenta criar toda uma atmosfera artística – ou, pelo menos, do que se é considerado como tal. Seja pelas próprias personagens, pela trama, os cenários, figurinos, música etc há um esforço em mostrar uma “alta cultura” – e o uso deste termo desagradável é mais para deixar nítido o que está presente na tela. Assim, em cada milímetro da projeção são encontradas marcas fortes de uma arte cânone.

E é aí que os problemas começam. Com tantas referências fortes, como Für Elise, de Beethoven, ou nas menções imagéticas e faladas de pintores e artistas plásticos clássicos,  sentidos isolados são criados. Ao escutar e visualizar obras que já têm interpretações e lugares profundos no imaginário da sociedade, o público pode criar uma relação extra fílmica de tal maneira que sinta um afastamento completo com o filme. Para conseguir não perder o espectador, no meio de uma chuva de citações diretas e indiretas, o ideal seria alguma dose de contenção em outros elementos inseridos no projeto.

Todavia, não há para onde fugir em Vermelho Monet. Um dos fatores mais complicados são as atuações exageradas, com criações de tipos, colocados de maneira não orgânica na tela. O Johannes Van Almeida de Chico Díaz é a caricatura da caricatura de um pintor. Com uma partitura corporal que incluiu tremedeiras e olhos piscando recorrentemente, a sensação que Díaz passa é a de que o seu processo passou por uma construção racional e cerebral demais. Isto acaba evocando uma representação e não uma interpretação. Todos os traços de Johannes são externos, soltos, sem tonicidade.

As intenções do texto são sim compreendidas, mas com o alto custo da artificialidade nas movimentações e diálogos. Na verdade, esta análise do trabalho do Chico poderia ser usada para tratar de quase todo o elenco. No entanto, em alguns momentos, a protagonista consegue sair desta atmosfera de caricatura. Samantha Müller, em seu primeiro longa, revela habilidade em deixar o seu texto mais fluido e crível. Isto não acontece durante toda a projeção, porém o fato de Müller passar alguma fé cênica neste cenário caótico mostra algum potencial da intérprete. Todavia, a maior carga da responsabilidade não é dos atores e sim do roteiro.

Para além de tentar forçar uma história de amor e crime – que já não é algo original -, os diálogos são o que mais comprometem a fruição e também o que interfere negativamente nas atuações. Há uma tentativa de pompa, de criar uma ambientação de intelectualidade. No uso desta estratégia, a ligação empática que a plateia poderia criar com a história se quebra. Porque há distanciamento demais quando os sentimentos  e sensações das personagens são colocadas em textos que soam como se fossem mais para serem lidos do que falados. O uso da fala não cotidiana poderia ser bem-vinda.

Mas, a questão central é que aqui esta escrita hiper elaborada e pomposa não funciona, justamente porque nada neste material parece estar em função da narrativa em si. E é por esta razão que os diálogos são truncados e sem organicidade. O que acontece com Vermelho Monet é que ele é uma tentativa de mostrar demais. Nesta turbulência de querer impor uma força de cores, entonações e emoções, o resultado é o oposto ao que parece ter sido a vontade do realizador e de sua equipe. Há toda uma boa intenção, mas o resultado é cansativo e indigesto.

Direção: Halder Gomes

Elenco: Samantha Müller, Chico Díaz, Maria Fernanda Cândido