Ópera e cultura popular se encontram em Último Dia, este curta-metragem de doze minutos. Há um bálsamo de criatividade aqui, seja pela junção de contextos culturais ou pela própria direção de Armando Lôbo. É curioso observar também como ele evoca a questão do luto. Sim, há muita informação em cena: três carpideiras, um morto e a própria morte, mobilidade versus uma figura imóvel, canto lírico, bastante movimentação de câmera e um palco de teatro.
Neste contexto, a escolha por criar esta contraposição das personagens estáticas com essa câmera que os circunda é majoritariamente acertada, porque equilibra o curta. É por esta razão que a figura da morte tende a destoar, porque ele é o único artista em cena que se locomove e como há muitos efeitos e ações vindas da direção, o ritmo se quebra e o aparente desejo do diretor de criar um caos organizado – dentro desta dinâmica entre o parado e o corrido – se perde um tanto.
Outro fator que incomoda durante a sessão são os figurinos, que não fazem jus ao restante da obra, que mesmo quando peca, traz um teor de elaboração alto. Esta questão é mais forte nas três carpideiras, que perdem a marca da unidade que poderiam ter. Mas, ainda que fossem trajes completamente distintos, eles também não casam com a personalidade de todas elas.
No entanto, o menos cuidadoso é o da morte, que faz com que haja uma pequena demora para que se possa identificar quem é aquela figura em cena, justamente porque todas as roupas, mesmo que pareçam um tanto improvisadas, têm mais qualidade que a dele. Mas, estes pontos são até menores quando é notável o desejo de convocar para ao ecrã algo que tem um quê de criatividade.
É empolgante assistir ao musical Último Dia, mesmo que a quantidade de movimentações e recursos usados por Lôbo acabem se tornando repetitivos em um certo momento e usados até a exaustão. Bom que foi em um curta-metragem, caso se estendesse mais seria difícil consumir a produção até o seu desfecho.
Direção: Armando Lôbo
Elenco: Walmir Chagas, Natália Duarte, Virgínia Cavalcanti