Entre o caos e as perdas vivenciadas desde o início da pandemia do Coronavírus, em 2020, existem as questões de ordem prática, como a moradia, as necessidades básicas, e a fome. Fome esta que se alastra em um governo genocida como o de Bolsonaro. Nesta mescla de tragédias, o Brasil permanece cambaleante, entre notícias cada vez mais pavorosas a cada despertar.
É um pouco deste contexto, ou um dos olhares possíveis para ele, que Corre de Marmita procura convocar. A partir das ações da Kasa Invisível, ocupação existente desde 2013 e que procura realizar atos sociais e políticos por Belo Horizonte, é que o público compreende este olhar dos diretores Luiz Pretti e Philippe Urvoy. Há um aparente desejo em mostrar esta BH que pulsa arte e cidadania, mas também abandono e descaso.
As intenções do curta-metragem estão todas ali, presentes e entendíveis. No entanto, falta algo no filme. Talvez, exista uma ausência de um tempo maior de fruição das informações. A questão não é de duração de exibição, mas do espaço que ganha cada momento ali mostrado e como a decupagem não parece pensada para cumprir o intento de contar a sua história.
A câmera na mão é uma escolha que precisa ser consciente e a sua utilização carrega consigo sentidos de linguagem, obviamente. Neste curta, o tremor, o desfoque e a modificação constante de quadro não surtem um efeito de imersão ou aproximação da narrativa. Pelo contrário, afasta, desconcentra e cansa o espectador. Devido ao fato da temática ser tão instigante, o público pode se esforçar e conseguir apreciar a sessão sim, porém o conteúdo poderia ser mais bem aproveitado, menos jogado na tela com tanta falta de encaminhamento.
Não é preciso ou desejável que caminhos tradicionais sejam percorridos. Não é isto que está sendo afirmado. O necessário é compreender qual o projeto que se tem nas mãos e o porquê de tirar ele do papel para filmar. Mostrar a ocupação, seus projetos e os acontecimentos durante o início da pandemia da Covid-19 – período no qual o filme se passa – seria o ideal para a disseminação das ideias que deveriam ser mostradas.
Isto se resolveria com uma sequência com planos mais extensos de alguns momentos, com um quadro do rosto de alguém da Kasa, uma imagem de arquivo etc. Assim, Corre de Marmita é uma produção importante em seu tema, porém desgastante e confuso em sua condução.
Direção: Luiz Pretti e Philippe Urvoy