Crítica: A Intrometida

Hollywood foi ingrata com Susan Sarandon em um determinado momento da sua carreira. Enquanto a vencedora do Oscar por Os Últimos Passos de um Homem e estrela eternizada em filmes como Thelma & Louise protagonizava produções de qualidade duvidosa (O Casamento do Ano) ou aparecia em outras tantas como coadjuvante de luxo (Um Olhar do Paraíso, Speed Racer e Tudo Acontece em Elizabethtown), jovens atrizes com bem menos talento firmavam contratos milionários com os grandes estúdios e contemporâneas como Meryl Streep, Jessica Lange e Glenn Close brilhavam em papeis fortes no cinema e na TV. A Intrometida talvez seja um dos poucos trabalhos recentes que finalmente dão o merecido espaço para Susan Sarandon brilhar. Tudo bem que o filme se enquadra como uma dramédia que provavelmente poucas pessoas verão ou levarão em consideração na temporada de prêmios e, consequentemente, não promete realizar mudanças drásticas no modus operandi hollywoodiano de dar pouco espaço para longas protagonizados por mulheres maduras, mas é revigorante assistir a uma história do seu calibre e que ainda é palco para Susan Sarandon mostrar porque é uma das melhores atrizes do cinema.

A Intrometida é dirigido e roteirizado por Lorene Scafaria (de filmes como Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo e Nick e Norah: Uma Noite de Amor e Música) e parte de uma experiência pessoal da realizadora, que traz para as telas um relato da sua história ao lado da mãe após a morte do pai. No filme, Sarandon interpreta Marnie, uma viúva que herda uma boa quantia em dinheiro do esposo e que está vivendo uma fase na qual tenta aproveitar ao máximo a vida. Marnie procura ocupações como voluntariar-se em um hospital ou promover uma festa de casamento para uma jovem que pouco conhece, além, claro, de tentar pôr ordem na vida da sua única filha Lori, como toda boa mãe. Quando Lori sinaliza para Marnie que a relação de ambas precisa ter certos limites, ela começa a se dar conta da sua solidão e de como tem preenchido seus momentos inquietantemente livres. A partir dai, a protagonista começa a tentar encontrar formas de superar o luto e seguir outros rumos na sua própria caminhada.

Com A Intrometida, Scafaria realiza um filme completamente adorável. O longa se enquadra como uma daquelas dramédias indies americanas, mas evita qualquer cacoete do seu nicho de produção. Claro que você não verá no longa de Scafaria maiores subversões, mas dentro das próprias convenções pactuadas a diretora encontra uma maneira natural e humana de construir sua história e de compor suas personagens, cujo maior mérito é a empatia que provocam na plateia, afinal todas elas são pessoas de “carne e osso”, sobretudo a protagonista Marnie. A diretora e roteirista faz do seu longa um filme que consegue lidar com seus momentos de humor e também com aqueles de completa introspecção. Scafaria tem como mérito imbricar essas duas facetas da sua história e dos sujeitos que a protagonizam de maneira orgânica, encontrando um tom próprio para a sua narrativa.

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No que diz respeito a sua protagonista, Lorene Scafaria é atenta a cada um dos suaves e impecáveis detalhes da interpretação de Susan Sarandon que compõe uma figura agradável e cativante pelo olhar generoso que tem para as pessoas e para a própria vida. Sarandon consegue uma oscilação interessante entre o cômico, nada caricatural, e a melancolia inerente ao luto vivido pela personagem. A câmera de Scafaria é toda para Sarandon e a atriz é brilhante ao conduzir o olhar do espectador para a jornada da sua personagem ao lado de ótimos parceiros como Rose Byrne (filha da protagonista) e J. K. Simmons, que lá pelas tantas torna-se um pretendente de Marnie. Assim, contando com uma atriz principal que agarra com segurança e competência uma personagem que cativa com sua simplicidade e seu potencial empático com a plateia, Lorene Scafaria faz o seu melhor trabalho até então, não resta dúvidas.

Em breve, Susan Sarandon poderá ser vista em Feud, série de TV de Ryan Murphy que promete trazer para o público o icônico confronto entre Bette Davis e Joan Crawford nos bastidores do filme O que aconteceu com Baby Jane? de 1962. Sarandon viverá ninguém menos do que Davis e contracenará com Jessica Lange, que interpretará Crawford. A expectativa é de que o programa traga mais uma grande performance da atriz. Somando a promessa de êxito dessa série com o impecável resultado do trabalho da vencedora do Oscar em A Intrometida, já podemos afirmar que, ao menos, um terreno é preparado para o seu comeback. Nada mais justo, Sarandon merece muito mais do que algumas poucas falas e servir de escada para atores menos expressivos que ela, como Orlando Bloom ou Mark Wahlberg. Sarandon merece o brilho que A Intrometida lhe dá.

Assista ao trailer do filme: