Terra Nova

XVII Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema: Terra Nova

4.5

Desde que o isolamento social se estabeleceu, em março de 2020, devido ao Cornavírus, começaram a aparecer diversas obras que tratavam do tema. A angústia de estar trancado e longe dos entes querides eram os focos principais das tramas sobre o assunto. Em Terra Nova, Diogo Bauer (O Barco e o Rio) expande a discussão e a puxa para um contexto menos intangível. Aqui, Bauer convoca a história de duas irmãs, moradoras da cidade de Manaus.

Uma delas perdeu o emprego e a outra, a atriz Karoline, vai em busca do auxílio emergencial, para tentar conseguir manter as despesas da casa, enquanto a situação sanitária do país não melhora – o que sabemos que tem sido muito difícil de alcançar. A grande questão aqui é o equilíbrio das aflições da dupla, juntamente com a exposição dos sentimentos delas e, ainda, a presença de uma discussão social profunda, por meio de diálogos cuidadosos.

Entre revelar a falta de apreço com a cultura no Brasil, sobretudo neste governo genocida e cruel, a dificuldade de mobilidade para chegar aos lugares com poucos recursos financeiros e a resistência do povo brasileiro, Bauer é bem sucedido por trazer todo este mundo de informação através de um texto que não é expositivo e contando mais sobre as personagens através das imagens.

Para tal, o realizador é econômico em movimentos de câmera e o curta-metragem possui poucos cortes, o que traz para o espectador um tempo maior de fruição de cada emoção impressa na tela. Um exemplo é a sequência na qual as irmãs estão no banco e conversam com o atendente. O desconforto pela falta de preparo, respeito e ignorância dele tomam o tempo necessário para que um nó fique na garganta.

Além disso, a dinâmica das atrizes Isabela Catão e Karol Medeiros fomenta ainda mais a força do filme. O ponto alto de suas interpretações está no jogo de velocidade que elas dão ao texto. Intercalando entre o mais rápido e devagar, os diálogos ganham conotações específicas. Medeiros e Catão direcionam o público a prestar atenção  a algumas falas mais intensamente, como na cena em que elas discutem no pátio de casa ou no retorno da Caixa.

O único incômodo no curta são alguns elementos de som. Talvez, a captura não tenha sido tão bem realizada como poderia. Alguns barulhos nas externas interferem na escuta, o que quebra um pouco da conexão com a produção. Além disso, a mixagem também é um tanto falha. Ruídos e sonoridades ficam desnivelados e até assustam em certas cenas, por estarem desbalanceadas ali.

No entanto, estas questões não interferem na qualidade total de Terra Nova. A partir de uma narrativa que fala de uma situação quase particular, a obra dialoga com toda uma população, uma bastante específica, que trabalha e luta para resistir. Esta é uma nação que viu uma parcela enriquecer durante a pandemia e outra comendo osso. As disparidades são convocadas no ecrã, por meio de um enredo afetivo, que trabalha uma relação fraternal, de forma íntima.

Também são encontrados aqui os perrengues de ser artista no Brasil, mesmo que formado, mesmo que galgando espaço no ramo – inclusive, ainda que esta que vos escreve abomine cartelas explicativas, o aviso de quantos empregos foram gerados com o curta é de emocionar e foi um acerto da equipe.  Nesta junção de elementos, Terra Nova é uma realização eficiente e que merece ser vista.

Direção: Diego Bauer

Elenco: Karol Medeiros, Isabela Catão, Ítalo Almeida

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