“Trapaça” é o tipo de filme que deixa a pessoa ansiosa para assistir mesmo antes de você saber realmente do que se trata. A reunião de atores fantásticos, as várias indicações ao Oscar, as premiações ganhas no Globo de Ouro e uma direção maravilhosa. São muito motivos que levam o nível de expectativa lá para os ares, criando um problema recorrente: quanto maior a expectativa, maior a possibilidade de frustração. Não que ele seja necessariamente frustrante, mas está longe de ser o deslumbre que estão falando.
Nada contra o filme em si e as atuações, mas até agora não entendi porque ele está correndo a tantas premiações e pior (ou melhor, depende do seu ponto de vista), ganhando. Ele não é ruim. Ao contrário, é muito bom. Mas simplesmente não é algo digno de uma percepção maior que leve a uma premiação tão importante quanto o Oscar. Muito menos aos prêmios faturados no Globo de Ouro.
Jennifer Lawrence (“Jogos Vorazes – Em Chamas”) continua sendo a atriz maravilhosa que ela promete desde o começo. Qualquer cena em que ela aparece, os holofotes caem em cima da jovem de apenas 23 anos e toda sua naturalidade. Aquela ali nasceu para atuar e ponto final. Ainda assim, por mais legal que seja sua performance, não justifica ela ter ganhado de Julia Roberts (“Uma Linda Mulher”) no Globo de Ouro, que concorria por “Álbum de Família”. Outra é Amy Adams (“Ela”), que realmente está muito boa e mostrando um lado dramático escondido e dando um show de atuação. No entanto, nada que mostre o por quê ela ganhou de Meryl Streep (“Simplesmente Complicado”) na mesma premiação e contra o mesmo filme.
Já Christian Bale (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”), eu diria que vale um Oscar, sim, porém não o desse ano. A competição está bem difícil, muito acirrada na categoria de Melhor Ator e desconfio que alguém consiga superar o brilho de Leonardo DiCaprio (“O Lobo de Wall Street”) e Matthew McConaughey (“Clube de Compras Dallas”). A performance de Bale está notável, indo da comédia ao drama em minutos e mostrando que a dedicação dele não tem fim, já que sustenta uma barriga respeitável depois dos quase 20 quilos ganhos para o papel. Bradley Cooper (“O Lado Bom da Vida”) sofre do grande problema de ser bom ator, porém não sustentar seu brilho com firmeza. Por mais que ele esteja bom, o holofote sempre acaba puxando para o outro lado (leia-se, Bale).
De forma geral, o filme é muito bom. Como o próprio nome já revela, conta a história de um casal de trapaceiros que foi pego por um detetive da polícia, mas que têm a sorte de poder ajudar a corporação e serem liberados da pena. Eles começam a aplicar vários golpes com filmagem escondida para pegar os salafrários que compactuam com o mundo do crime. O detetive, por sua vez, vai mergulhando cada vez mais fundo na criminalidade. A narrativa, além de atraente, é bem executada. Não existe nenhum fio solto ao final do longa e todas as peças se encaixam.
A direção de arte caprichou nos figurinos escolhidos, principalmente nos de Amy Adams, que está uma verdadeira piranha aproveitadora, com todos os seus decotes sem fim. O cabelo de Lawrence é o toque perfeito para acentuar sua loucura e ela consegue dar vida à personagem e toda a sua personalidade intensa. Aliás, a questão da cabeleira é bem importante na história, já que a primeira cena do filme é de Bale arrumando a careca por um longo tempo, de forma a escondê-la de maneira satisfatória. Cooper também está engraçadíssimo com o cabelo bem cacheado. A trilha sonora também foi bem escolhida e direcionada espertamente para aprofundar cada cena.
Apesar de ser um filme muito bom, “Trapaça” peca por passear pelo satisfatório e não surpreende o espectador que aguardava ansiosamente o seu lançamento. A sensação que se tem é que o longa foi erroneamente indicado ao Oscar, ou que houve, no mínimo, uma forçada de barra por parte da Academia de Cinema. Ainda assim, é digno de uma boa conferida no cinema.