Direção: Jason Reitman
Elenco: Kate Winslet, Josh Brolin, Gattlin Griffith, Clark Gregg, Tobey Maguire
É incrível a sutileza que alguns filmes têm para falar de assuntos tão profundos, de forma tão natural e despretensiosa. O cineasta Jason Reitman, que já havia trazido ótimos trabalhos como Juno (2007), Amor Sem Escalas (2009) e Jovens Adultos (2012), brilhou não apenas no papel de diretor, como também esteve na produção e criação do roteiro da trama, motivo pelo qual acredito ter ocasionado em um filme tão encaixado e bem executado como esse.
Adele, interpretada pela belíssima Kate Winslet, é uma mãe jovem divorciada que vive em estado de depressão ao lado do filho pré-adolescente, Henry, vivido pelo competente Gattlin Griffith. Ela fica pelos cantos da casa, sem cuidar da aparência ou da casa em si, dando pouca assistência ao filho, que mais atua como cuidador dela do que como prole efetivamente. Uma vez por semana, o menino se encontra com o pai, o ex-marido de Adele que pediu o divórcio depois que a traiu com a secretária, com quem acabou se casando.
A narrativa segue mostrando a relação unida de mãe e filho e a dificuldade que ela tem de lidar com o mundo exterior. Ela treme para qualquer coisa e se porta como uma velha doente, embora seja jovem. A mudança da trama acontece quando eles estão em um mercado e um homem ferido, interpretado por Josh Brolin, encurrala Henry e pede por sua ajuda. Com a negativa de Adele em levar o desconhecido para sua casa, ele ameaça sutilmente a família, afirmando que eles vão ter que deixar ele repousar por algumas horas.
Com pouco tempo, mãe e filho descobrem que Frank, o desconhecido, se trata de um fugitivo da polícia que cumpria 18 anos de assassinato na prisão e escapou de um hospital, quando foi fazer uma cirurgia de apêndice. Mesmo assustados, os dois tentam agir naturalmente, para não despertar em Frank qualquer movimento estranho.
Frank se mostra, no entanto, muito além do que um fugitivo da polícia que pede para ser escondido. Ele começa a ajudar na casa e cuidar dos consertos que a morada precisava, além de ser alguém com quem Adele podia conversar. Depois que a polícia se espalha pela cidade a sua procura e o trem não parte, por ser feriado do Dia do Trabalho, o homem vai ficando e se inteirando ainda mais dos costumes da família. O que era para ser uma situação de reféns, acaba virando uma linda história de amor.
A sutileza do enredo, que possui poucos diálogos e quase nenhuma trilha sonora, traz a melancolia que a história envolve por si só, conferindo ainda mais drama aos personagens. É incrível como em dado momento o espectador simplesmente não entende quem está ajudando quem, já que Frank transforma completamente a vida de Adele. De velha doente, ela passa a mostrar o brilho de alguém jovem da sua idade, como um renascimento depois da morte que a depressão lhe trouxe.
Todo o filme é intercalado com cenas do passado de ambos os protagonistas, o que no começo é estranho, já que não há uma definição específica de temporalidade, como o uso de viragem sépia, ou turvo nas bordas, por exemplo. Mas logo o espectador entende do que se trata e a trama vai se encaixando e explicando os mistérios do casal principal.
A direção de fotografia também dá um show ao trazer cenas próximas dos personagens, dando a quem assiste a chance de sentir tudo aquilo que eles sentem. A atuação de Kate Winslet é memorável, trazendo todos os aspectos confusos e específicos que a personagem propõe e sabendo distinguir cada cena com clareza e naturalidade, ao mesmo tempo. O mesmo pode ser dito do menino Griffith, que mesmo com pouca experiência, consegue carregar muito bem o peso de ser um dos protagonistas do filme.
Reitman consegue finalizar muito bem o filme, dando o fim devido aos personagens, e não o fim que o espectador apaixonado quer. O longa é de grande sensibilidade e vale a pena ser conferido.