Como a atriz se tornou uma das vozes femininas mais importantes da nova Hollywood
Estávamos em 2011 e nada menos do que sete produções estreiam no cinema, todas elas encabeçadas pelo nome de uma única atriz: Jessica Chastain. O fato poderia ser encarado com naturalidade se estivéssemos falando de uma estrela hollywoodiana com mais tempo no mercado, como Angelina Jolie ou Meryl Streep, mas estamos falando de uma californiana, ruiva e de pele bem clara que na ocasião ainda não tinha feito uma grande estreia no cinema. Ocorre que somente em 2011, Jessica Chastain interpretou a esposa de Brad Pitt em A Árvore da Vida, filme do cultuado diretor Terrence Malick (o longa venceu a Palma de Ouro em Cannes); protagonizou O Abrigo, título que revelou o cineasta Jeff Nichols; atuou ao lado de Helen Mirren (A Grande Mentira) e Ralph Fiennes (Coriolano); e recebeu a primeira indicação ao Oscar da sua carreira, como atriz coadjuvante no longa Histórias Cruzadas, protagonizado por Emma Stone e Viola Davis.
Segundo Chastain, nada disso foi proposital. O que aconteceu com a atriz é que produções filmadas dois ou três anos antes de 2011 só ficaram prontas naquele ano e então Jessica acabou estreando nas telonas com a sensação de já ser uma veterana no cinema. A Árvore da Vida, por exemplo, como toda obra de Terrence Malick que se preze, levou quase dois anos no processo de pós-produção. Em maio 2011, o filme chegou a Cannes junto com outro longa estrelado pela atriz, o drama apocalíptico O Abrigo, apresentando Chastain ao grande público. Nas duas produções, a interpretação da atriz foi muito elogiada.
Naquele mesmo ano, em agosto, Histórias Cruzadas chegava ao topo das bilheterias norte-americanas contando a história de duas empregas domésticas negras em meio a preconceituosa elite dos EUA da década de 1960. O papel de Chastain na produção era pequeno, mas foi o suficiente para a performance da atriz sobressair-se. Diferente das frágeis e introspectivas donas de casa que interpretou em O Abrigo e A Árvore da Vida, a Celia Foote de Chastain em Histórias Cruzadas era uma esposa alegre e sensual que ostentava um cabelo oxigenado e um avantajado derié e se tornava amiga da sua empregada, personagem da vencedora do Oscar Octavia Spencer. A popularidade de Histórias Cruzadas e a recepção da crítica a O Abrigo e A Árvore da Vida fez com que Jessica fosse lembrada pela Academia na cerimônia do Oscar por sua Celia Foote.
Vale ressaltar que antes dos títulos já citados, Jessica já havia aparecido nas telonas em longas de pouca expressão que foram exibidos em festivais selecionados, como os dramas independentes Jolene e Salomé, dirigido por Al Pacino, praticamente um padrinho na carreira de Chastain.
Um ano depois do boom da atriz, a diretora Kathryn Bigelow retornaria aos cinemas com A Hora mais Escura, filme que contaria a caçada a Osama Bin Laden empreendida pelos EUA nos primeiros anos do século XXI. No papel de Maya, mulher que esteve à frente desse processo, Jessica recebeu sua segunda indicação ao Oscar, desta vez como melhor atriz.
O longa de 2012 deu vazão à faceta politizada de Chastain em uma Hollywood com sintomas de misoginia, homofobia e racismo. Com muita frequência a atriz vem à público posicionar-se sobre a ausência de papéis interessantes no cinema americano para as mulheres, sobretudo quando elas atingem a maturidade. Recentemente, ao receber um prêmio no Critic’s Choice Awards pelo conjunto de filmes que apresentou em 2014 – Interestelar, O Ano mais Violento, Miss Julie e Dois Lados do Amor – , Chastain fez um discurso que dialogava com a ausência sentida de representantes de minorias (negros, mulheres, gays etc.) entre os indicados ao Oscar daquele ano, fator evidenciado pela exclusão de Selma entre os indicados. No palco, Jessica falava:
” Hoje é o aniversário de Martin Luther King Jr. e isso me fez pensar sobre a nossa necessidade de fortalecer a diversidade em nossa indústria e de nos juntar contra quadros homofóbicos, sexistas, misóginos, anti-semitas e racistas. Eu sou uma pessoa otimista, não há o que eu possa fazer contra isso. Tenho esperança sobre o futuro do cinema, especialmente olhando para todas as belas pessoas nesta sala.”
Assista ao vídeo do discurso abaixo:
Além de posicionar-se em prol destas minorias em Hollywood, Chastain também apresenta-se como o modelo de estrela de cinema do novo século. A atriz é assídua em redes sociais como o Facebook, o que a aproxima ainda mais do público, e faz questão de atender com simpatia aos jornalistas em tapetes vermelhos, mostrando-se mais afetuosa e despojada que suas colegas veteranas. Agir desta forma em cerimônias glamourosas como o Oscar ou o Globo de Ouro, no entanto, não retira de Jessica características da antiga Hollywood, já que ela é uma das preferidas dos críticos de moda e dos estilistas mais renomados do nosso tempo. Jessica consegue ser parte do jogo, rendendo-se aos desfiles dos tapetes vermelhos e a toda a política das premiações, ao mesmo tempo que apresenta-se como alguém diferenciado nesse nicho, renunciando à frieza e o ar blasé das celebridades que fazem parte do mesmo universo que ela mas dizem que não compactuam com tudo isso. Talvez esta combinação de fatores dê pistas sobre a razão da atriz ter caído nas graças da indústria e de alguns dos melhores diretores de sua geração.
Nos próximos anos, ainda veremos muito de Jessica Chastain nas telonas. Entre os filmes com a atriz previstos para estrear estão o novo e esperado longa de horror do mexicano Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno), A Colina Escarlate, no qual ela atua ao lado de Mia Wasikowska e Tom Hiddleston. Além dele, Jessica estará em The Martian, nova ficção-científica de Ridley Scott protagonizada por Matt Damon. Em 2016, ela se juntará a Charlize Theron, Emily Blunt e Chris Hemsworth em O Caçador, prequel do filme Branca de Neve e o Caçador, de 2012.