Reflexo de um ano equilibrado com uma seleção morna e com nenhum concorrente excedendo as expectativas, a vitória de Spotlight – Segredos Revelados em cima dos seus concorrentes encerrou uma temporada de premiações marcada pela dispersão de opiniões a respeito do filme do ano. Com menos elementos que depunham contra sua escolha como melhor filme que seus rivais aos olhos da Academia – Mad Max – Estrada da Fúria (um blockbuster), O Regresso (um longa extremamente violento) e A Grande Aposta (moderninho demais) -, o longa de Tom McCarthy venceu pois provavelmente não apresentou opiniões muito díspares entre os votantes (a coisa deve mudar após ter vencido o Oscar já que a honraria pesa no juízo do filme). Não havia “ame-o ou deixe-o” quando o assunto era Spotlight. Mesmo aqueles que não se mostravam tão efusivos com o filme, reconheceram os seus méritos e a sua importância. Assim, a sua escolha como melhor filme da noite parecia estar diante dos nossos olhos, ainda que os prêmios que antecedessem o Oscar colocassem um monte de caraminholas nas nossas cabeças.
O fato é que, na história do Oscar, Spotlight – Segredos Revelados foi o longa vencedor da categoria principal que saiu com o menor número de estatuetas da cerimônia. Fora melhor filme, o longa de Tom McCarthy levou apenas o prêmio de melhor roteiro original. Esse cenário, para muitos, era apontado como um empecilho da sua vitória na categoria principal já que geralmente um vencedor de melhor filme leva alguma estatueta em no mínimo duas categorias-chave da cerimônia, como melhor montagem, direção, fotografia ou atuação. Não foi o que aconteceu… Spotlight ainda quebrou uma antiga resistência da Academia com filmes sobre jornalismo, que já foram outras vezes indicados ao Oscar principal, mas nunca levaram o prêmio, entre eles clássicos como Todos os Homens do Presidente, Rede de Intrigas e Nos Bastidores da Notícia.
No mais, também brilharam na noite O Regresso e Mad Max – Estrada da Fúria.
O Regresso, que faturou 3 prêmios na noite, rendeu a Leonardo DiCaprio o tão aguardado Oscar de melhor ator, o que fez com que o astro fosse aplaudido de pé pelos presentes na cerimônia. Além desse prêmio, o longa venceu em melhor direção, segunda vitória consecutiva de Alejandro G. Iñárritu (ano passado ele levou o prêmio de direção por Birdman), e melhor fotografia, terceira vitória consecutiva de Emmanuel Lubezky (ganhador na categoria em 2015 por Birdman e 2014 por Gravidade).
Já o grande “rolo compressor” da noite foi mesmo o blockbuster de George Miller Mad Max – Estrada da Fúria, que apesar de não ter conseguido muito em categorias principais, fora o prêmio de melhor montagem, faturou 6 Oscars. O longa ganhou em montagem, figurino, direção de arte, maquiagem, mixagem de som e edição de som. De tirar o fôlego!
Sem maiores surpresas, A Grande Aposta venceu o prêmio de melhor roteiro adaptado e as atrizes Brie Larson, de O Quarto de Jack, e Alicia Vikander, de A Garota Dinamarquesa, confirmaram uma antiga predileção da Academia por jovens apostas nas categorias de atuação feminina. Larson faturou o Oscar de melhor atriz em um papel principal e Vikander como coadjuvante. Também não houve surpresas com a vitória da Hungria na categoria melhor filme estrangeiro por Filho de Saul, tampouco na de Divertida Mente como melhor longa de animação ou de Amy como melhor longa documentário. O ícone do cinema Ennio Morricone também cumpriu as expectativas ao vencer na categoria melhor trilha sonora original por seu trabalho em Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino.
Além da entrega do prêmio de melhor filme, duas outras categorias foram responsáveis pela puxada de tapete de muitos bolões do Oscar…
A primeira delas foi efeitos visuais. Ex Machina – Instinto Artificial levou a melhor enfrentando títulos badalados, como os blockbusters Mad Max – Estrada da Fúria e Star Wars – O Despertar da Força.
Já como melhor ator coadjuvante, um certo clima de “já ganhou” em torno de Sylvester Stallone por Creed – Nascido para Lutar rendeu ao eterno Rocky Balboa uma grande decepção que o ator não fez questão de esconder logo depois que o vencedor da categoria foi anunciado: Mark Rylance, de Ponte dos Espiões. Sem dúvida, o melhor trabalho entre os atores coadjuvantes desse ano foi o de Rylance, mas não deixamos de ficar tristes por um momento que poderia ser histórico na cerimônia de ontem, Stallone subindo ao palco para receber um prêmio por interpretar novamente Balboa depois de anos. Fica para Creed 2…
A decepção da noite ficou por conta da vitória de Sam Smith pela canção “Writing’s on the Wall”, de 007 contra Spectre, sobretudo após a apresentação emocionante de Lady Gaga para “Til It happens to You”, composta por ela para o documentário The Hunting Ground e apontada por muitos como a favorita do grupo de indicados, que não era dos melhores, diga-se de passagem. Se a Academia votasse depois da apresentação de Gaga, suspeito, o resultado podia ser bem diferente… Uma pena…
O saldo ficou assim:
Mad Max – Estrada da Fúria
6 Oscars (melhor montagem, direção de arte, figurino, maquiagem, edição de som e mixagem de som)
O Regresso
3 Oscars (melhor direção, ator e fotografia)
Spotlight – Segredos Revelados
2 Oscars (melhor filme e roteiro original)
Com uma estatueta cada…
A Grande Aposta
melhor roteiro adaptado
O Quarto de Jack
melhor atriz
A Garota Dinamarquesa
melhor atriz coadjuvante
Ponte dos Espiões
melhor ator coadjuvante
Divertida Mente
melhor longa de animação
Ex Machina – Instinto Artificial
melhores efeitos visuais
Amy
melhor longa documentário
Filho de Saul
melhor filme estrangeiro
Os Oito Odiados
melhor trilha sonora original
007 contra Spectre
melhor canção original
Bear Story
melhor curta de animação
A Girl in the River – The Price of Forgiveness
melhor curta documentário
Stutterer
melhor curta em live action