Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais

Mostra de Tiradentes: Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais

1.5

A partir de uma premissa aparentemente simples e objetiva, Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais embarca em uma tentativa de trazer um desenvolvimento de trama complexa, com mistérios, metáforas e atemporalidades. Neste contexto, o público acompanha o protagonista em uma jornada de descobertas, reflexões e de luta. Há uma busca pela sutileza, porém alguns aspectos prejudicam o resultado total.

A começar pela captura de áudio. Existem alguns elementos que podem ser relevados quando a obra possui uma ideia ou uma força intensa, mas apresentam dificuldades técnicas. No entanto, o que acontece aqui dificulta a compreensão da própria história. Os diálogos não são escutados em partes ou em sua totalidade. Isto faz com que o espectador possa se afastar do que está sendo contado, tamanho o esforço para  escutar o texto.

Dentro desta dinâmica, a própria costura dos eventos narrativos é falha. Há uma sensação de ausência de uma construção anterior para que cada acontecimento seja fluido dentro do enredo. É notável uma procura por deslocar a personagem principal do tempo e espaço, mas não é esta característica da produção que incomoda e sim as situações blocadas, que esvaziam os sentidos das ações propostas, deixando que a força do discurso se esvazie.

Apesar do curta não funcionar em seu conjunto geral, existem alguns pontos positivos a se destacar. Um deles é a escolha de manter a câmera parada, enquanto os atores se movimentam pelo espaço. Esta estratégia faz com as tensões sejam mais presentes, provocando uma espécie de curiosidade para o que virá a seguir. A mise-em-scène consciente e eficaz dentro desta composição de suspensão.

Desta maneira, pode-se dizer que é possível entender o que Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais deseja passar e reivindicar. A sua temática é extremamente necessária. O genocídio do povo negro e de corpos dissidentes é um assunto que precisa ser retratado no audiovisual e na arte como um todo, sem dúvidas. Infelizmente, o objetivo desta produção fica pela metade, porque falta habilidade em comunicar os pensamentos dos idealizadores e recursos para uma execução mais eficaz, que não interfira na compreensão de quem assiste.

Direção: Rafael Luan e Mike Dutra

Elenco: Mateus Henrique Ferreira do Nascimento, Gabriel Gadelha, Muriel Cruz Phelipe

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