Para a turma que zapeava de vez em quando o E! – canal que a cada ano que já deveria mudar o seu nome para K! tamanha a veneração e o espaço dado para a família Kardashian- , Joan Rivers poderia ser uma figura que instantaneamente chamava a atenção pela falta de censura em suas piadas debochadas e politicamente incorretas sobre a indústria do entretenimento norte-americana. E ela era assim e parte de seu sucesso se deve a essa característica. Porém, Joan Rivers não era só a senhora sem papas na língua que falava sobre o non sense universo das celebridades, da moda e da sua própria obsessão pela estética, haja visto a quantidade de cirurgias plásticas que se submeteu ao longo da carreira. Rivers era uma pioneira.
Nos anos de 1960, quando a comédia era um terreno masculino, Rivers estava lá e abriu as primeiras portas para AS comediantes. No final dessa década, quando a TV norte-americana tinha como tradição a disputa dos talk-shows apresentados por homens, ela foi a primeira mulher a assumir o comando de um programa desse gênero. Por machismo, foi banida da TV por uma lista negra do famoso entrevistador Johnny Carson que dizia com todas as letras que os talk shows não eram para mulheres. Injustiçada pelo clube do Bolinha, as portas se fecharam para Joan por um bom tempo.
Tamanha a quantidade de reviravoltas que tomaram conta da vida de Rivers, na década de 1980, a comediante foi surpreendida pelo suicídio de seu marido Edgar, em depressão com a crise dos negócios da família. Nos anos de 1990, Rivers retorna, apresenta o seu show diurno, ganha um Emmy e lança moda no canal E! ao transformar a temporada de premiações do cinema no maior desfile de moda do mundo com a famosa pergunta: “Who you wearing?” ou “Quem você está vestindo?”.
Nos anos 2000, Rivers sai novamente do radar e retorna como participante do reality show “O Aprendiz” – vencedora, por sinal – e como personagem central do premiado documentário sobre a sua vida “Joan Rivers – A Piece of Work”, um sincero e revelador relato sobre o cruel mundo do entretenimento. Nos últimos cinco anos, a comediante vivia outro renascimento em sua carreira, retornando ao E! a frente de um reality show com a sua filha, “Joan e Melissa: Joan Knows Best”, e do “Fashion Police”. E como ela era divertida nesse último, mesmo para aqueles que, como eu, não entendiam “xongas” de moda. “Who cares?”, ninguém estava lá pela moda, mas por Joan.
Aos cinéfilos chatos que perguntam que raios Joan Rivers tem a ver com o cinema, ou melhor, tem birra dela por transformar o Oscar em um desfile de moda (seria ela a única culpada?) e por jogar seu veneno sem dó nem piedade em todos aqueles que fazem parte da indústria, os mais queridos principalmente, apenas acho uma pena que determinadas bandeiras cinéfilas tão cafonas sejam mais fortes do que qualquer reflexão coerente, sem preconceitos e menos esnobe ou elitista sobre a indústria.
O que Joan fazia era tirar sarro de uma Red Carpet Season que se leva a sério demais, melhor, Joan tirava sarro das coisas pelas quais ela mesma tinha uma grande estima: a vaidade, a moda, as celebridades, o show business… Como não amar uma mulher tão a frente do seu tempo, única, capaz de rir de si próprio, de não levar a vida – que já é dura, severa, impiedosa – tão a sério assim.
Fará falta e se juntará a tantos outros talentos que nos deixaram em 2014.
Definitivamente a temporada de prêmios não será mais a mesma sem ela e um pouquinho da graça do mundo se foi junto com Rivers, como disseram os próprios chefões do E!…
#RIP