Durante toda a projeção de Um Instante de Amor, Gabrielle, personagem de Marion Cotillard, é vítima de toda uma lógica esquizofrênica que cultiva nas mulheres determinados ideais românticos, mas ao mesmo tempo castra sua liberdade sexual. Em seu filme, baseado no romance Mal de pierres de Milena Agus, a diretora Nicole Garcia parece querer tratar de um estado patológico da sua protagonista, consumida pela frustração de não se realizar amorosamente e por não poder decidir o que fazer da sua própria vida. Esse estado de castração leva a personagem a ápices de loucura que volta e meia surgirão ao longo do filme.
Gabrielle nos é apresentada como uma jovem que faz parte de uma comunidade rural no interior da França cujos país não são ricos mas têm algumas posses e empregados. Quando chega a uma certa idade, Gabrielle começa a se mostrar extremamente desgostosa de sua vida por não conseguir um marido. A partir do momento em que a moça apresenta sinais de perda da sanidade, sua mãe lhe arranja um casamento com um de seus funcionários. A princípio, Gabrielle parece desejar ter uma vida conjugal de fachada, contudo, depois de um tempo, ela começa a dar maior abertura ao marido, que, logo pensa em ter filhos com a esposa. Internada em uma clínica para tratar de um problema nos rins que a impossibilita de engravidar, Gabrielle conhece um ex-soldado extremamente debilitado (Louis Garrel) por quem acaba se apaixonando. A partir de então, a personagem começa a vislumbrar uma possibilidade de se realizar amorosamente.
Interpretada por Marion Cotillard, Gabrielle é uma personagem difícil de se afeiçoar, ao menos assim sua realizadora acaba construindo-a junto com a atriz. Para além da sua paixão pelo apático André Sauvage – uma característica não apenas do personagem que encontra-se em estado de saúde crítico, mas porque o ator Louis Garrel costuma ser assim mesmo na tela – Gabrielle não demonstra vivacidade por absolutamente nada. Fica difícil para o público se envolver com uma personagem formada nesses moldes.
Complementando a dificuldade de empatia do público com a protagonista, o longa sofre uma reviravolta difícil de engolir no terceiro ato que torna, subitamente, o marido da protagonista, interpretado por Alex Brendemühl, peça central da história. Assim, o roteiro transforma um filme que tinha seus problemas, mas que ainda assim parecia ter muito a dizer, em uma obra que apela para truques narrativos que em nada estão à serviço da construção de sua personagem principal.
O resultado esquisito de Um Instante de Amor faz com que a gente tenha um drama que apresenta pouca coerência na solução que encontra para o desfecho da sua protagonista e um romance que parece se contentar com uma instância fantasiosa. Nesse estado de indecisões, o filme de Nicole Garcia frustra bastante o espectador, um tipo de frustração que sequer é produtiva no âmbito da reflexão sobre a história ao final da sessão.
Obs.: O filme está em cartaz na programação do Festival Varilux de Cinema Francês que está ocorrendo em várias cidades brasileiras. Para ficar por dentro dos horários das sessões desse e de outros títulos que estão na programação do evento, clique aqui.
Assista ao trailer do filme: