O escultor Auguste Rodin é daqueles artistas controversos que até hoje rende biografias com diferentes perspectivas e pontos de vista sobre sua vida e arte. Se por um lado deixou um legado artístico que sobreviveu por anos (com algumas polêmicas de plágio no meio, é verdade), por outro teve uma vida pessoal marcada por relacionamentos complicados de se aceitar nos dias de hoje. Rodin, filme de Jacques Doillon, é mais um desses relatos
Rodin era conhecido por se relacionar com as jovens que serviam de modelo para suas esculturas e também com as alunas do seu ateliê, a mais famosa delas, Camille Claudel, que entrou em profundo desgosto após o término do relacionamento e por ver o valor da sua obra (tão ou mais relevante que a de Rodin) ser negado pela sociedade machista. Rodin explora todos esses meandros da vida do seu biografado, porém sofre pela estranha frieza com que Doillon se apropria dessa história.
Entre a defesa fervorosa pelo artista Auguste Rodin, arcando com as consequências de aderir a um discurso machista sobre a arte e o fazer artístico, e um olhar mais clínico a respeito da conduta do seu biografado nesse questionável cruzamento entre sua vida pessoal e seu ofício, Jacques Doillon opta por situar-se em um entre caminho que em nada favorece sua obra, pelo contrário, demonstra uma certa covardia de enfrentar os fatos e confrontar saudavelmente seu personagem central. Narrativa e esteticamente frio e massante, Rodin é uma biografia cansativa e burocrática que parece temer abraçar um posicionamento a respeito do seu protagonista, ainda que Doillon pareça claramente ter algum ponto de vista a oferecer.
Como resultado, Rodin acaba sendo uma daquelas cinebiografias que se distanciam tanto do seu biografado a ponto de fazer com que o público não consiga ter acesso à sua personalidade e entender o propósito de seu relato em específico. Nem mesmo a interpretação de Vincent Lindon é capaz de fazer algo pelo filme, já que o ator parece tão distante do artista que interpreta quanto seu diretor. É estranho acompanhar um longa que parece flertar o tempo inteiro com a intimidade de um personagem e sairmos da sessão sem uma ligeira dimensão do que seus envolvidos pensam sobre aquele sujeito. É esta exata sensação que Rodin nos deixa quando sobem os créditos.
Obs.: O filme está em cartaz na programação do Festival Varilux de Cinema Francês que está ocorrendo em várias cidades brasileiras. Para ficar por dentro dos horários das sessões desse e de outros títulos que estão na programação do evento, clique aqui.
Assista ao trailer do filme: