Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu

Festival de Cinema de Vassouras: Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu

1.5

Com a intenção de ser uma produção que traz algo que jamais foi visto sobre uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos, a Maria Bethânia, o documentário Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu é justamente o oposto disso. Dirigido por Carlos Jardim, o longa-metragem é confuso em tantas camadas, que só não é cansativo e verdadeiramente impossível de assistir pela figura magnética da Bethânia.

A falta de lógica e de conexão de fio narrativo está presente tanto na direção quanto na montagem. Com longas sequências de imagens de arquivo, mescladas aos depoimentos da cantora – gravados no Copacabana Palace, em 2020 – os cortes barram a ligação do espectador com a narrativa, por não serem precisos. Ainda que exista todo um valor histórico de filmagens inéditas, falta saber usar o conteúdo que eles têm em mãos. As subidas e descidas de som, por exemplo, são abruptos. 

A sensação que a obra passa é a de que há uma euforia e uma vontade tão grande de enaltecer Bethânia, que faltou um olhar para a técnica, para pensar que um filme precisa de um roteiro estruturado, com uma linha narrativa elaborada para amarrar a sua própria história. O que acontece aqui é uma junção de elementos, que se repetem e que não se transformam em um documentário coeso. 

Já que o objetivo era ser diferente do que já foi feito sobre a artista, talvez selecionar um tema específico, uma tour de Maria ou qualquer tópico que ainda não foi falado fosse mais interessante de se acompanhar. Obviamente, escutar Maria Bethânia cantando e falando é sempre emocionante e impactante, porém, analisando o filme em si, falta tecnicidade para realizar uma boa produção.

Além destas passagens de shows e de entrevistas com Maria, há também offs de textos escritos sobre ela. Estes momentos não conseguem gerar os sentimentos que poderiam gerar no público, soam frios e distanciados, justamente porque não há uma construção de ritmo, de enredo, de progressão dramática ou de nada que remeta a que um longa precisa ter: atos que se conectam e causam emoções, altos e baixos, punchs, plot. 

No entanto, é preciso ressaltar que nem tudo é negativo no doc. Existe um ganho aqui que é dentro das imagens do passado, junto com os relatos do presente, a coerência sobre as vivências, reflexões e desejos artísticos de Bethânia são mostrados de forma pontual. É inteligente como a montagem traz esta certeza de como a profundidade e a complexidade da cantora sempre estiveram ali e se mantiveram, mesmo depois de tantos anos. 

Ainda assim, Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu perde a chance de realmente realizar o intento que se propõe. Com um documentário que parece um bruto, que ainda não ganhou corte final, resta a impressão de que a equipe se valeu do encanto que Bethânia provoca, porém se esqueceu que para contar sobre a trajetória de alguém – sobretudo uma figura icônica como esta – é preciso trama, gancho, é preciso cinema.

Direção: Carlos Jardim

Assista ao trailer!