Horizonte

Festival de Cinema de Vassouras: Horizonte 

2.5

Há um pensamento desta que vos escreve, que talvez seja brega, porém bastante verdadeiro: Todo dia é dia de recomeçar. A cada despertar, as pessoas ganham uma nova oportunidade de se reinventar, de conhecer novas pessoas, de amar, de lutar, de descansar, de sonhar, de comer e beber, de viver. Horizonte é um longa-metragem que vai fundo nesta lógica, revelando que a idade não é um marcador definitivo para que jornadas possam ser iniciadas.

A sociedade, que parece querer pausar a vida dos idosos, como se eles apenas aguardassem pela morte, é criticada durante a projeção de forma pontual, mas também sensível. Através do protagonista, Rui (Raymundo de Souza), o espectador é imerso em um universo muito particular, que se inicia com uma atmosfera de luto, melancolia e revolta e vai se transformando em esperança e resiliência.

Saber trabalhar o carisma e a força da personagem principal é o maior ganho do filme. É na conexão afetiva com Rui que o público não se importará tanto com detalhes técnicos, que escapam a equipe aqui e ali, diminuindo um tanto da sua qualidade geral, porém sem quebrar completamente o laço que já é estabelecido com a trama, desde o seu início. Este fator acontece pela decisão da direção em entregar um plano longo, já de cara, no qual a família de Rui é apresentada.

Este começo justifica toda a obra e cada ação de Rui durante o enredo. Com poucas ações e palavras é possível compreender a dinâmica completa do cenário que ele vive, aos 72 anos, após perder o seu irmão. Todavia, os equívocos estão presentes em Horizonte e eles, infelizmente, precisam ser descritos. Apesar de todo talento do elenco, principalmente de Raymundo, falta organicidade do roteiro na construção dos diálogos.

Esta artificialidade provoca uma sensação de que a todo momento um discurso ou uma palestra está sendo proferida. Esta característica interfere no estabelecimento das relações, porque há mais estranheza do que proximidade, quando as falas se encaminham para os tons não cotidianos, em sequências que pedem realismo quase absoluto. Além disso, ainda que a decupagem pareça segura, existem movimentos de câmera vacilantes, que interferem profundamente na fruição.

No balanço, no tremor e no desfoque, quem assiste pode ser retirado da narrativa de quando em quando, pelo desconforto da ausência de estabilidade das imagens. Por fim, a iluminação também convoca a impressão de que a fotografia desliza ao chapar a luz, apresentando poucas nuances de texturas e tonalidades. Não é algo que compromete, mas que deveria ser melhor executado.

De toda maneira, Horizonte vai além dos detalhes de sua tecnicidade e tem relevância na sua história em si. Afetivo e convocando o lugar dos idosos no mundo – algo de extrema relevância e urgência –, esta é uma produção que vale muito mais pelo seu intento do que por seu resultado.

Direção: Rafael Calomeni

Elenco: Raymundo de Souza, Ana Rosa, Suely Franco

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