Durante a pandemia, em um set de poucas diárias, em um veleiro, a roteirista e atriz Juliane Araújo traz uma história poética, sutil e melancólica em Travessia. Com Caio Blat fechando o elenco e Gabriel Lima na direção, este é um filme que mostra o poder das narrativas simples, focadas em sentimentos plurais, profundos e universais.
O que mais chama a atenção aqui é o risco. Com planos quase longos do oceano, banhado pelos off de Juliane e Caio, ou de instantes introspectivos de suas personagens, existia um perigo das estratégias da equipe se tornarem menos emocionais e mais pretenciosas. Todavia, o efeito é oposto.
A montagem e a direção permitem que o público investigue aquelas figuras, mergulhando em seus sentimentos e entendendo, com pouco texto verbal direto, a trajetória de ambos. Não há algo nítido sobre o passado ou as conexões da dupla, mas isso é a chave para que a produção funcione. A plateia sabe que a personagem de Caio é um escritor, que navega em uma solidão, por exemplo.
A força das imagens mescladas com as narrações é que criam esta conexão com o enredo. Neste sentido, a paleta de cores empregada para cada personagem aumenta a construção de sentido. Ele, é cercado de tons azuis, de melancolia. Ela, esta rodeada de tons alaranjados e de objetos vermelhos.
Contudo, ambos se fazem presentes no universo um do outro, pois o mar azul está sempre ali e o sol ou a luz, que ilumina o veleiro. As memórias e as presenças estão sempre com estas contaminações um do outro, aumentando ainda o poder conferido para o relacionamento da dupla.
Desta maneira, Travessia, em sua decupagem contida em movimentos de câmera, em sua locação simples, atinge o espectador por sua poesia e pela exploração de conflitos internos, através de emoções tão plurais quando o amor romântico e a solidão.
Direção: Gabriel Lima
Elenco: Juliane Araújo, Caio Blat
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