Quintal

Festival Cinepe 2023: Quintal

Equilibrando qualidade técnica com uma protagonista carismática, Quintal é um curta-metragem baiano que mostra, com sensibilidade, a transformação de uma menina criativa, mas que se sente pressionada pelas cobranças da sociedade.

Aqui, há uma construção narrativa muita firme, justamente porque existe uma consciência do que é o universo ficcional que está sendo ali criado. Tanto na relação da garotinha com o espaço urbano que a sufoca, quanto no alívio que a mesma sente ao entrar em um quintal, a personalidade e os conflitos da personagem é transmitida a partir deste paralelo.

Não é necessário que exista texto verbal. As dicotomias vividas pela menina estão todas ali: sufocamento da cidade grande X alívio do contato com a natureza ou pressão para tocar bem o instrumento da flauta X sucesso ao esquecer do formalismo. Assim, uma história com complexidades e sentimentos profundos são criados por estas metáforas que permeiam a trama com delicadeza.

Um exemplo é a figura do passarinho Riobaldo que aparece cantando ou some, a depender do que Diadorim está sentindo, se ela está em processo fluido de criatividade ou oprimida pelo sistema e pela dureza de um centro urbano. Inclusive, o nome destas duas figuras se dá pelo fato de que a animação é inspirada no poema de Manoel de Barros: Tributo a João Guimarães Rosa”.

Esta informação é bastante relevante porque revela como o curta-metragem é permeado de camadas. Primeiro tem este fato: a narrativa vem de um poema, que faz homenagem a um escritor. Além disso, Diadorim estuda música, é tímida e ama a natureza. Estes elementos ampliam os sentidos da obra.

Assim, são várias discussões, dentro de um curta, o que é, por si só, um desafio, porque muitas temáticas juntas podem ser um fiasco numa produção de pouco tempo de duração. Muitas vezes, os curtas-metragistas se enrolam na execução de seus filmes, colocando elementos demais e esquecendo de focar no que importa. Mas, em Quintal, tudo floresce e se faz poderoso na medida certa, como na decupagem, que acentua traços da personalidade de Diadorim, conduzindo em seus quadros mais abertos e fechados, o que vale destacar de suas emoções.

Talvez, a produção tenha uma pequena queda em sua metade, pois demora de iniciar o seu desenlace, repetindo algumas situações. Mesmo assim, a animação é cuidadosa e criativa, cativando o espectador por ter uma personagem principal cativante e uma técnica bem realizada.

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